Arsenal do Hamas é composto por armas de Irã, China, Rússia e Coreia do Norte

Análise de dezenas de vídeos e fotos de combate revela que o grupo reuniu um arsenal diversificado e poderoso na luta contra Israel

O Hamas, nos últimos três meses de combate desde o ataque surpresa contra Israel, ocorrido em 7 de outubro, conseguiu reunir um arsenal diversificado poderoso em sua guerra contra o Estado judeu. Ele inclui rifles de precisão do Irã, fuzis AK-47 de China e Rússia, granadas lançadas por foguetes da Coreia do Norte e Bulgária, além de foguetes antitanque montados secretamente em Gaza.

Essas armas foram contrabandeadas apesar de um bloqueio de 17 anos destinado a impedir tal acumulação militar. Uma análise feita pela agência Associated Press (AP), com base em mais de 150 vídeos e fotos de combate, destaca a variedade e a origem internacional do armamento utilizado pelo grupo militante durante o conflito.

Em meio ao intenso confronto nas áreas urbanas de Gaza, as armas utilizadas pelo Hamas têm se mostrado letais. Os combatentes do grupo, frequentemente equipados apenas com o essencial, empregam táticas de ataque e retirada para enfrentar as vantagens de Israel em armas e tecnologia. Vídeos de propaganda recentemente divulgados pelos extremistas aparentemente mostram disparos contra soldados israelenses, capturados pelos visores de rifles de precisão.

Militante do Hamas durante o ataque ao sul de Israel em 7 de outubro de 2023 (Foto: WikiCommons)

“Estamos buscando armas, apoio político e dinheiro em todos os lugares”, disse recentemente Ghazi Hamad, porta-voz do Hamas, sem revelar detalhes sobre os fornecedores das armas ou como chegaram ao enclave.

Especialistas, ao analisarem as imagens para a AP, identificaram características das armas usadas pelo Hamas, mas não fica claro se foram fornecidas pelos governos ou adquiridas no próspero mercado negro do Oriente Médio e da África, onde armamentos são anunciados em redes sociais de países em conflito, como Iraque, Líbia e Síria.

Fica evidente que nas imagens muitos militantes do Hamas aparecem com armas aparentemente novas, indicando que o grupo encontrou formas de contornar o bloqueio aéreo e marítimo em Gaza, talvez por meio de barcos, túneis ou camufladas em cargas de alimentos, aponta a reportagem.

De acordo com N.R. Jenzen-Jones, especialista em armas militares ouvido pela reportagem, o arsenal do Hamas inclui principalmente armas chinesas, russas e iranianas, além de armamentos norte-coreanos e de países do antigo Pacto de Varsóvia.

Apesar desse acúmulo, Israel mantém uma ampla vantagem, contando com tanques modernos, artilharia, helicópteros de combate e uma força aérea equipada com caças dos EUA.

As Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) relatam ter eliminado mais de sete mil militantes do Hamas, com perdas de pelo menos 510 de seus próprios soldados, sendo mais de 330 no ataque inicial do grupo terrorista. O Ministério da Saúde em Gaza, controlada pelo Hamas, afirma que mais de 24 mil palestinos morreram no conflito, sem diferenciar entre civis e combatentes.

Análises de imagens pela AP revelam um arsenal do Hamas que inclui desde armas de pequeno porte e metralhadoras até mísseis terra-ar de ombro e projéteis antitanque artesanais. Destaca-se o AM-50 Sayyad, um rifle de precisão iraniano que dispara projéteis de calibre .50 capazes de perfurar até uma polegada de aço, previamente observado em conflitos no Iêmen, na Síria e nas mãos de milícias xiitas no Iraque.

Indústria militar local

Um oficial militar israelense, familiarizado com o arsenal do Hamas revela que o grupo utiliza uma mistura de armas contrabandeadas prontas para uso, como AK-47s, RPGs (lançadores de granadas antitanque) e mísseis antiaéreos, juntamente com uma ampla variedade de armamentos produzidos localmente, muitas vezes feitos com materiais civis facilmente disponíveis.

Segundo o oficial, há uma expressiva indústria militar e de defesa dentro da Faixa de Gaza, onde a maioria das armas contrabandeadas entra através do Egito. Essas armas, em geral, são de fácil aquisição e não necessariamente precisam ser fornecidas diretamente pelos países de origem.

Embora os governos ocidentais, sobretudo o dos Estados Unidos, hesitem em acusar diretamente o Irã de envolvimento neste ato em particular, especialistas dizem que não há duvidas quanto à aliança ampla entre a República Islâmica e o grupo radical. Ela funciona não somente para o envio de armas ao Hamas, mas também para a formação de engenheiros capazes de construir em Gaza parte do arsenal da facção.

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