Números divulgados pelo Hamas sugerem que a guerra matou quase 1% da população de Gaza

Mais de 20 mil pessoas já perderam a vida no conflito iniciado em outubro, conforme relatado por autoridades de saúde palestinas

O número é chocante: 20.057 mil vidas foram perdidas na Faixa de Gaza desde o início do conflito entre Israel e o Hamas, conforme números apresentados pelo Ministério da Saúde de Gaza nesta sexta-feira (22) e repercutidos pelo jornal The Washington Post. Enquanto isso, as forças israelenses aumentam sua ofensiva, ordenando que dezenas de milhares de pessoas deixem suas casas.

As mortes correspondem a quase 1% da população do território antes do início da guerra, sendo a mais recente evidência do impactante número de vítimas humanas durante as 11 semanas de conflito.

A ofensiva aérea e terrestre de Israel se configura como uma das campanhas militares mais devastadoras da história moderna, resultando no deslocamento de quase 85% dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza e na destruição de extensas áreas do enclave.

De acordo com um relatório divulgado na quinta-feira (21) pela ONU (Organização das Nações Unidas) e outras agências, mais de meio milhão de pessoas em Gaza, correspondendo a um quarto da população, estão enfrentando a fome como uma consequência direta desse cenário, conforme relatou a agência Associated Press (AP).

Palestinos transportam os feridos para o Hospital Indonésio em Jabalia, ao norte da Faixa de Gaza, em 9 de outubro de 2023 (Foto: WikiCommons)

A escalada da violência teve início após o ataque liderado pelo grupo político e militar palestino em 7 de outubro, classificado pelo estado judeu como o “11 de setembro de Israel” e que resultou na morte de mais de 1,2 mil pessoas. Em resposta, o governo israelense lançou um intenso bombardeio e uma invasão terrestre, resultando em uma perda de quase um em cada cem habitantes do enclave.

A sangrenta estatística supera com margem qualquer episódio anterior na história recente da região. Ultrapassa, inclusive, os 15 mil palestinos estimados como mortos no Nakba (“catástrofe”), êxodo palestino consequente da perda de território que ocorreu durante a guerra árabe-israelense de 1948, segundo dados do Gabinete Central de Estatísticas da Palestina. O episódio histórico foi marcado pelo deslocamento forçado de centenas de milhares de palestinos de suas casas e pela criação do Estado de Israel.

Neta Crawford, co-diretora do projeto Costs of War (Custos de Guerra, em tradução literal), que monitora conflitos, destacou que a taxa de mortalidade atual é comparável à registrada em conflitos do século 20. “Este nível de destruição é significativo e fora do comum no século 21”, afirmou ela.

A contagem de mortes em Gaza desde 7 de outubro tem sido objeto de disputa, com o The Washington Post e outros veículos de imprensa utilizando dados do Ministério da Saúde de Gaza. Essa abordagem reflete a prática de diversas instituições internacionais, organizações e entidades globais antes mesmo do início do conflito. A confiabilidade histórica do órgão palestino, que possui acesso direto a hospitais e necrotérios, é evidenciada pela elaboração de certidões de óbito para os residentes no enclave.

No entanto, autoridades israelenses e norte-americanas expressaram dúvidas quanto à confiabilidade dos números de mortes divulgados. Alegam que o Ministério da Saúde, controlado pelo Hamas, grupo classificado como terrorista por ambos os países, não faz distinção entre combatentes e civis em seus registros.

Um oficial israelense, que falou ao jornal sob condição da anonimato, destacou que os únicos números considerados confiáveis por Israel e pelas Forças de Defesa de Israel (IDF, da sigla em inglês) são os de terroristas do Hamas mortos desde o início do ataque em 7 de outubro. Segundo a fonte, “muitos milhares” de combatentes extremistas foram mortos até agora, representando uma pequena fração de uma força estimada em 30 mil.

Pressão insuficiente

Apesar da pressão internacional para reduzir a ofensiva, Israel, com o poio dos Estados Unidos, permanece firme em sua pretensão militar e indica que ainda enfrentará meses de combates no sul de Gaza, onde vive a maioria dos 2,3 milhões de habitantes do enclave. Muitos desses habitantes foram obrigados a fugir do norte no início do conflito.

As ordens de evacuação continuam a encurralar os civis deslocados em áreas cada vez menores no sul, enquanto as tropas concentram suas operações na cidade de Khan Younis, a segunda maior de Gaza.

Martin Griffiths, chefe dos assuntos humanitários da ONU, expressou pesar pela omissão global.

“Permitir que um conflito tão brutal persista por tanto tempo, apesar da condenação generalizada, dos custos físicos e mentais e da destruição massiva, é uma mancha indelével em nossa consciência coletiva”, compartilhou ele no X, antigo Twitter.

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