Ataque com carro-bomba no noroeste do Paquistão deixa quatro mortos

Foi o segundo ataque militante a atingir o país em poucos dias. Até agora, nenhuma organização assumiu a responsabilidade

Nesta quarta-feira (24), um carro-bomba suicida atingiu um posto de controle de segurança no noroeste do Paquistão, resultando na morte de dois soldados, um policial e um civil, de acordo com informações de militares e autoridades de segurança. Esse foi o segundo ataque militante registrado no país em um curto período de tempo. As informações são da agência Associated Press.

O atentado ocorreu no distrito de Waziristão do Norte, antigo reduto do grupo militante Tehrik-e Taliban Pakistan (TTP), popularmente conhecido como Taleban do Paquistão. O distrito está localizado na província de Khyber Pakhtunkhwa, na fronteira com o Afeganistão. Além das vítimas fatais, vários civis ficaram feridos no ataque, conforme relatado pela polícia local.

Combatentes do Tehreek-e-Taliban em vídeo de abril de 2021, Paquistão (Foto: Twitter/PatilSushmit)

As forças militares, em um comunicado, confirmaram o uso do carro-bomba. De acordo com o documento, o alvo era uma reunião pública próxima, mas as forças de segurança conseguiram evitar uma grande catástrofe ao interceptarem imediatamente o veículo carregado com explosivos.

Até o momento, nenhuma organização assumiu a responsabilidade pelo ataque, mas a suspeita recai sobre o TTP.

Outros ataques

Além disso, também nesta quarta, as forças de segurança realizaram uma operação em um esconderijo no Waziristão do Sul, outro distrito que faz fronteira com o Afeganistão, resultando na morte de seis militantes, de acordo com informações divulgadas pelos militares.

Embora não tenham sido fornecidos detalhes específicos sobre os insurgentes mortos, essas operações costumam visar o TTP. Nos últimos seis meses, o grupo aumentou seus ataques desde que unilateralmente encerrou um cessar-fogo mediado por Cabul, vigente no ano passado, com o governo paquistanês.

Também na fronteira com o Afeganistão, o TTP assumiu hoje a autoria de um ataque ocorrido na véspera a uma fábrica de petróleo e gás em Hangu, distrito de Khyber Pakhtunkhwa. O incidente resultou na morte de quatro soldados de segurança e dois guardas particulares que estavam nas instalações administradas pela empresa multinacional europeia MOL Pakistan Oil and Gas.

Apesar de ser um grupo distinto, o Tehreek-e-Taliban Pakistan mantém uma estreita aliança com o Taleban afegão. A ascensão talibã ao poder no Afeganistão em agosto de 2021, após a retirada das forças dos EUA e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) após duas décadas de guerra, tem sido vista por alguns como um encorajamento ao TTP no Paquistão. A presença do Taleban na região pode ter implicações na dinâmica e nas atividades dos talibãs paquistaneses.

Por que isso importa?

Embora sigam os mesmos preceitos fundamentalistas e sejam ambos grupos sunitas, o Taleban afegão e o homônimo paquistanês são entidades separadas. Porém, o governo do Paquistão aproveitou sua proximidade com os talibãs do Afeganistão para iniciar negociações com o TTP, com quem chegou a firmar dois acordos de cessar-fogo.

O primeiro pacto ocorreu em 2021, mas foi interrompido no dia 10 de dezembro, exatamente um mês após ter sido iniciado. Os extremistas do TTP acusaram Islamabad de não cumprir as promessas feitas antes do acordo, entre elas a libertação de prisioneiros e a formação de um comitê de negociações.

À época em que aquele cessar-fogo foi estabelecido, o ministro da Informação paquistanês, Fawad Chaudhry, confirmou a influência do Taleban do Afeganistão para que o acerto fosse possível, embora os grupos homônimos não tenham qualquer tipo de associação oficial. Mais recentemente, em junho de 2022, um novo cessar-fogo foi acordado, mas confrontos esporádicos continuam a ocorrer.

A proximidade entre Islamabad e o Taleban afegão sempre incomodou o Ocidente. Depois que os radicais conquistaram Cabul, consequentemente assumindo o governo do Afeganistão, o então premiê paquistanês Imran Khan declarou que o grupo estava “quebrando as correntes da escravidão”, em vídeo reproduzido pelo jornal britânico The Independent.

Segundo o think tank norte-americano CFR (Conselho de Relações Estrangeiras, da sigla em inglês), uma forte razão para a proximidade entre Paquistão e Taleban é a questão territorial. “As autoridades paquistanesas estão preocupadas com a fronteira com o Afeganistão e acreditam que um governo do Taleban poderia aliviar suas preocupações”, diz a entidade, que destaca a disputa histórica entre os paquistaneses e a etnia pashtun do Afeganistão. “O governo do Paquistão acredita que a ideologia do Taleban enfatiza o Islamismo em vez da identidade pashtun”.

Nos EUA, são comuns as acusações de que o governo paquistanês não apenas dialoga com os talibãs afegãos, mas também os apoia e dá suporte. Segundo especialistas, o ISI, serviço de inteligência paquistanês, apoiou grupos militantes na região da Caxemira, disputada entre Paquistão e Índia. Entre eles, grupos que hoje figuram na lista de organizações terroristas do Departamento de Estado norte-americano.

O CFR ilustra essa desconfiança com uma entrevista do então secretário de Defesa dos Estados Unidos Robert Gates, concedida ao programa 60 Minutes, da rede CBS, em maio de 2009. Na ocasião, ele disse que “até certo ponto, eles jogam dos dois lados”, referindo-se ao ISI.

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