Ativistas pedem que abusos do Taleban contra as afegãs sejam julgados em Haia

Carta aberta diz que os talibãs impuseram um 'apartheid de género' no Afeganistão, acusação corroborada pela ONU

Um grupo de ativistas pelos direitos das mulheres publicou na terça-feira (27) uma carta aberta que acusa o Taleban de impor um “apartheid de gênero” no Afeganistão, pelo que o grupo radical que governa o país deveria ser julgado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), sediado em Haia. As informações são da rede Radio Free Europe (RFE).

“Eles devem ser processados”, disse uma ativista signatária da carta, que pediu anonimato por questão de segurança. “Os talibãs impuseram um apartheid de gênero no Afeganistão, excluindo as mulheres da sociedade através de proibições de emprego e educação, ao mesmo tempo que perseguem ativistas dos direitos humanos.”

A expressão “apartheid de gênero” já havia sido utilizada m setembro por Richard Bennett, relator especial sobre a situação de direitos humanos a serviço da ONU (Organização das Nações Unidas) no Afeganistão.

Na ocasião, ele afirmou que a discriminação sistemática, generalizada e institucionalizada estabelecida no país visa a excluir as mulheres de todas as facetas da vida. E acrescentou que, “lamentavelmente, o Afeganistão tornou-se um lugar onde as vozes das mulheres desapareceram completamente.” 

Afegãs estudam em centro de aprendizado acelerado na província de Maidan Warda (Foto: Azizullah Karimi/Unicef)

Na carta aberta, as ativistas usam os mesmos argumentos de Bennett, dizendo que as mulheres afegãs “são sistematicamente privadas de liberdades básicas e de direitos humanos e de cidadania.”

O documento ainda destaca os casos de cinco ativistas que estão detidas no Afeganistão: Neda Parwani, Zholya Parsi, Manijeh Sediqi, Bahare Karimi e Parisa Azadeh.

Sem emprego nem educação

A falta de liberdade das mulheres é uma realidade incontestável no Afeganistão, conforme enfatizou em agosto Mahbouba Seraj, ativista afegã pelos direitos femininos e indicada ao Prêmio Nobel da Paz em 2023.

Desde a tomada do poder central pelo Taleban, mulheres não podem estudar, trabalhar, nem sair de casa desacompanhadas de um homem. A perda do salário por parte de muitas afegãs que sustentavam suas casas inclusive contribui para o empobrecimento da população.

Em julho, as mulheres foram proibidas também de gerenciar e trabalhar em salões de beleza, um dos últimos redutos onde ainda conseguiam exercer a cidadania com um mínimo de dignidade. O veto matou uma fonte de renda crucial para muitas famílias, duramente afetadas pela profunda crise financeira no país.

Além das proibições profissionais e educacionais, as afegãs enfrentam restrições sociais, impedidas de frequentar espaços públicos como parques e academias. Também são obrigadas a usar vestimentas longas e escuras que cobrem o rosto e não podem sair de casa sem uma razão específica ou sem a presença de um tutor masculino.

Mesmo que a manifestação das ativistas não venha a surtir um efeito prático imediato, a ativista Maryam Maarouf Arvin argumenta que, a médio ou longo prazo, cartas como esta “podem ajudar a comunidade internacional a cumprir a sua obrigação para com as mulheres afegãs.”

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