O Catar decidiu suspender seus esforços como mediador nas negociações entre o Hamas e Israel, após falhas recorrentes em avançar com um acordo. De acordo com um diplomata próximo ao assunto, a decisão foi motivada pela recusa de ambos os lados em negociar de boa fé. As informações são da BBC.
O diplomata, que pediu anonimato para tratar dos detalhes confidenciais, confirmou que essa retirada ocorreu sem qualquer pressão direta dos Estados Unidos ou de Israel. No entanto, a declaração do Catar foi feita após autoridades norte-americanas de alto escalão afirmarem que Washington não aceitaria mais a presença de representantes do Hamas no país, acusando o grupo palestino de rejeitar novas propostas para encerrar a guerra em Gaza.
O Hamas mantém uma base em Doha, a capital do Catar, desde 2012, supostamente a pedido do governo Obama.
Desde o início da guerra em Gaza, em outubro de 2023, o pequeno país do Golfo Árabe, conhecido por sua aliança estratégica com os EUA, desempenhava um papel crucial e sensível nas tentativas de diálogo entre o Estado israelense e o grupo militante palestino. O Catar atuava como um dos poucos canais de comunicação abertos entre as partes, usando sua influência na região para tentar promover um cessar-fogo e uma solução pacífica.
Segundo fontes diplomáticas, a decisão de interromper a mediação foi tomada em abril deste ano, após repetidos fracassos em alcançar um entendimento entre as partes envolvidas. As tentativas do Catar incluíram diálogos com líderes do Hamas no exílio, mas não houve progresso significativo nas negociações.
Apesar da suspensão, autoridades americanas, incluindo o governo Biden, teriam pedido ao Catar que retomasse suas iniciativas de mediação. Contudo, mesmo com esse incentivo, as novas rodadas de negociações conduzidas pelos cataris não conseguiram produzir avanços, resultando em um novo impasse.
O Catar, que tem um histórico de mediação em conflitos regionais, é visto como um ator-chave devido à sua capacidade de diálogo com grupos como o Hamas, algo que muitos países ocidentais não possuem.
O Catar anunciou, por meio de um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, que suspenderá sua mediação nas negociações entre Israel e Hamas, caso um acordo não seja alcançado na atual rodada de conversações. Segundo a declaração, o país havia informado Israel e o Hamas há dez dias sobre sua intenção de interromper os esforços, mas se comprometeu a retomá-los assim que houver uma disposição séria para acabar com a guerra e o sofrimento dos civis.
A decisão ocorre após mais de um ano de intensos confrontos, que já resultaram em milhares de vítimas e um cenário humanitário devastador. O Catar, que já desempenhou um papel fundamental nas negociações em meses anteriores, ajudou a mediar um cessar-fogo temporário em novembro do ano passado. Naquela ocasião, o país facilitou a libertação de mais de 100 reféns israelenses, capturados durante o ataque de 7 de outubro, e também garantiu a libertação de centenas de prisioneiros palestinos detidos em Israel.
Além disso, o Catar, juntamente com o Egito, tem criticado publicamente o governo israelense por sua postura inflexível nas negociações. A liderança israelense tem insistido apenas em pausas temporárias nas hostilidades, com o objetivo de liberar reféns, mas rejeitou qualquer compromisso em relação a um cessar-fogo mais amplo. O governo israelense continua afirmando que não encerrará as hostilidades até que todas as capacidades do Hamas sejam completamente desmanteladas.
O Catar tem sido um abrigo para líderes exilados do Hamas por quase 20 anos, mas, de acordo com um diplomata, após o fracasso nas negociações para um cessar-fogo, o país não vê mais razão para continuar hospedando o escritório político do grupo.