‘Cemitério para crianças’, guerra completa um mês com mais de dez mil mortos em Gaza

Dados divulgados pelo Hamas indicam que mais de quatro mil menores morreram no enclave palestino desde 7 de outubro

Nesta terça-feira (7) completa um mês desde o ataque do Hamas que matou cerca de 1,4 mil pessoas em Israel, dando início a uma guerra que somente na Faixa de Gaza fez mais de dez mil vítimas fatais. Entre eles, mais de quatro mil menores de idade, número que levou o secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), António Guterres, a classificar o conflito como “cemitério para crianças.”

“Gaza está se tornando um cemitério de crianças. Centenas de meninas e meninos são supostamente mortos ou feridos todos os dias”, disse Guterres na segunda-feira (6). “O pesadelo em Gaza é mais do que uma crise humanitária. É uma crise da humanidade”, prosseguiu.

Segundo números divulgados pelo Ministério da Saúde do enclave, já são ao menos 10.022 pessoas mortas em Gaza, alvo de constantes ataques realizados pelas Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês). Entre esses mortos estão 4.104 crianças.

Ao comentar a triste marca, Guterres destacou ainda que 89 pessoas a serviço da Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA) morreram, cinco delas somente nas 24 horas anteriores ao anúncio. Junto morreram muitos familiares dos trabalhadores humanitários, de acordo com o secretário-geral, destacando que entre as vítimas há professores, médicos e engenheiros.

Criança em frente aos escombros de um edifício em Gaza, 8 de outubro de 2023 (Foto: UNICEF/El Baba)

O drama daqueles que sobrevivem aos bombardeios é ainda maior devido ao bloqueio imposto por Israel, que impede a entrada no enclave de itens como água, alimentos, medicamento e combustível. Nas últimas duas semanas, Israel flexibilizou as restrições, mas não a ponto de aliviar o sofrimento da do povo de Gaza.

Foram autorizados a entrar no enclave cerca de 400 caminhões com ajuda nesse período, muito pouco para atender à população. A ONU informa que habitualmente entravam em média 500 caminhões por dia, sendo que 80% dos 2,3 milhões de habitantes dependem de suporte externo para sobreviver.

“O caminho a seguir é claro: um cessar-fogo humanitário. Agora”, disse o chefe das Nações Unidas. “As partes no conflito – e, na verdade, a comunidade internacional – enfrentam uma responsabilidade imediata e fundamental: pôr fim ao sofrimento coletivo desumano e expandir dramaticamente a ajuda humanitária a Gaza.”

Mais uma vez, Guterres destacou as crianças como principais vítimas do bloqueio, relatando ainda uma iminente crise sanitária. “Sem combustível, os recém-nascidos em incubadoras e os pacientes em suporte vital morrerão”, declarou. “A água não pode ser bombeada ou purificada. O esgoto bruto poderá em breve começar a jorrar para as ruas, espalhando ainda mais doenças.”

Os pedidos de Guterres e de boa parte da comunidade internacional, no entanto, não surtem efeito. Embora tenha prometido adotar “todas as medidas possíveis” para evitar mais vítimas civis, o secretário de estado norte-americano Antony Blinken afirmou, segundo a rede BBC, que um eventual cessar-fogo neste momento serviria aos interesses do Hamas, que assim poderia se reagrupar.

Nesse sentido, Israel informou na segunda-feira que isolou o norte de Gaza do resto do enclave graças a seus ataques aéreos. “Estamos nos aproximando deles”, declarou o tenente-coronel Richard Hecht, porta-voz militar israelense. “Concluímos o nosso cerco, separando os redutos do Hamas no norte dos do sul”, acrescentou, de acordo com a agência Associated Press (AP).

Mais uma vez, as IDF responsabilizaram o Hamas pelas baixas civis, alegando que o grupo opera em bairros residenciais. Por sua vez, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu voltou a atrelar uma eventual interrupção dos bombardeios à libertação de ao menos parte dos cerca de 240 reféns mantidos pelo Hamas.

“Bem, não haverá cessar-fogo, cessar-fogo geral, em Gaza sem a libertação dos nossos reféns”, disse o premiê, segundo a rede ABC News. “No que diz respeito a pequenas pausas táticas, uma hora aqui, uma hora ali. Já as tivemos antes, suponho, e verificaremos as circunstâncias para permitir a entrada de mercadorias, bens humanitários, ou para nossos reféns, reféns individuais, sair emMas não creio que haverá um cessar-fogo geral.”

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