O presidente Donald Trump prepara um dos gestos diplomáticos mais decisivos de seu segundo mandato: receber, na terça-feira, o príncipe-herdeiro Mohammed bin Salman na Casa Branca. A visita, a primeira desde que o líder saudita foi implicado no assassinato do jornalista Jamal Khashoggi em 2018, simboliza o fortalecimento de uma parceria que desafia aliados, críticos internos e até parte do Maga (“Make America Great Again“, ou “Faça a América Grande Novamente”). As informações são do Politico.
Trump pretende oferecer a MBS um pacote de alto impacto: um eventual acordo bilateral de segurança, que garantiria proteção dos EUA à Arábia Saudita em caso de ataque. O pacto seguiria o modelo da ordem executiva que prometeu defender o Catar em setembro, um movimento que surpreendeu a região e estabeleceu um precedente similar ao da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) no Oriente Médio.

A iniciativa ocorre mesmo após o príncipe-herdeiro recusar a principal prioridade de Trump: normalizar relações com Israel, impasse agravado pela guerra em Gaza. Por ora, o governo aponta para novos investimentos sauditas – além dos US$ 600 bilhões já anunciados este ano – como a vitrine da aproximação.
Conversas semanais e alinhamento estratégico
Segundo fontes da Casa Branca, Trump e Bin Salman conversam por telefone semanalmente. A afinidade pessoal tem se convertido em acordos concretos, que incluem:
- possível compra saudita de caças F-35,
- importação de chips de inteligência artificial produzidos nos EUA,
- sinalização de apoio ao programa nuclear saudita,
- novas conferências de investimentos em Washington.
A Arábia Saudita também tenta atrair mais capital privado para projetos de modernização econômica, uma prioridade diante dos retornos mais fracos do Fundo de Investimento Público e da queda nos lucros da Saudi Aramco.
Tensão no movimento MAGA
A diplomacia agressiva de Trump tem provocado desconforto entre aliados internos. Depois da vitória democrata nas eleições deste mês, figuras como Marjorie Taylor Greene e Steve Bannon criticaram o foco do presidente em líderes estrangeiros enquanto demandas internas, pilar do lema “América Primeiro”, seguem pendentes.
Greene escreveu no X que “gostaria de ver reuniões constantes sobre política interna, não sobre líderes estrangeiros”. Trump respondeu classificando-a como “lunática delirante” e retirou publicamente seu apoio político.
Arábia Saudita busca o mesmo status do Catar
Para analistas, a nova visita tem objetivo claro: garantir para Riad um acordo de segurança tão robusto quanto o dado ao Catar.
“Eles viram o que o Catar conseguiu e querem igual. Ou mais”, disse Jonathan Schanzer, da Fundação para a Defesa das Democracias.
O ministério da Defesa saudita já confirmou encontros prévios com o secretário de Defesa, Pete Hegseth, o secretário de Estado, Marco Rubio, e o enviado especial Steve Witkoff.
O que esperar da visita
Especialistas acreditam que Trump deve usar o encontro para:
- exibir avanços econômicos e diplomáticos,
- reforçar seu papel central no Oriente Médio,
- pressionar por um eventual cessar-fogo no Sudão,
- e testar a reação da ala mais nacionalista de sua base.
A Casa Branca, até o momento, não comentou a visita oficialmente.