Entidade humanitária acusa Israel de usar a fome como arma contras a população de Gaza

Human Rights Watch cita bloqueio no fornecimento de água, comida e combustível e diz que ação equivale a crime de guerra

“O governo israelense está usando a fome de civis como método de guerra na Faixa de Gaza ocupada, o que é uma guerra crime.” A declaração foi feita nesta segunda-feira (18) pela ONG de direitos humanos Human Rights Watch (HRW), que destaca como parte da estratégia militar de Israel contra os palestinos os bloqueios impostos ao fornecimento de água, alimento e combustível ao enclave.

“Por mais de dois meses, Israel vem privando a população de Gaza de alimentos e água, uma política estimulada ou endossada por altos funcionários israelenses e que reflete a intenção de matar civis de fome como método de guerra ”, disse Omar Shakir, diretor da ONG para Israel e Palestina. “Os líderes mundiais deveriam se manifestar contra este crime de guerra abominável, que tem efeitos devastadores sobre a população de Gaza.”

Criança em meio as escombros em Gaza (Foto: WikiCommons)

Para embasar as acusações, a HRW diz que ouviu 11 palestinos que foram forçados a deixar Gaza e relataram o desafio que se tornou obter água, alimentos e outros itens dentro do enclave desde o início da guerra na região, desencadeada pelo ataque do Hamas contra Israel no dia 7 de outubro.

A situação dramática da população local é confirmada por dados do Programa Mundial de Alimentos (PMA) das Nações Unidas, segundo o qual nove em cada dez famílias no norte de Gaza e duas em cada três no sul do enclave passaram pelo menos um dia e uma noite inteiros sem comer nada.

“Não tínhamos comida, nem eletricidade, nem internet… nada”, disse um homem que deixou o norte de Gaza. “Não sabemos como sobrevivemos.”

“Você está em constante busca pelas coisas necessárias para sobreviver”, relatou à HRW outro palestino, um pai de dois filhos que também se viu forçado a ir embora com a família para sobreviver. 

Em seu relatório, a entidade humanitária destaca que a lei internacional proíbe que a fome de civis seja usada como método de guerra.

“O Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional (TPI) estabelece que matar intencionalmente civis de fome, ‘privando-os de objetos indispensáveis ​​à sua sobrevivência, incluindo impedir deliberadamente o fornecimento de ajuda humanitária’, é um crime de guerra”, diz a ONG.

O problema, segundo a organização, é anterior à guerra, mas se intensificou dramaticamente em meio ao conflito, com um bloqueio total imposto por Israel a Gaza.

Antes do início da hostilidades, a estimativa era de que 1,2 milhão dos 2,2 milhões de habitantes de Gaza enfrentavam insegurança alimentar aguda, com mais de 80% da população dependente de ajuda humanitária para sobreviver. Hoje, a ajuda é autorizada a entrar de forma limitada, em quantidade insuficiente para alimentar a população que permanece no enclave.

“O aprofundamento da catástrofe humanitária em Gaza exige uma resposta urgente e eficaz da comunidade internacional”, afirmou Shakir.

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