Entidades russas denunciam abusos de Moscou no conflito da Síria

Relatório se destaca por lançar crítica interna a Moscou na Síria; na Rússia conflito é retratado como 'bem-sucedido'

As principais organizações de direitos humanos da Rússia denunciaram abusos de Moscou no conflito da Síria em um relatório lançado na última quarta (31). A guerra síria completou dez anos no último dia 15 de março.

O documento chama a atenção por lançar uma rara crítica à política de Moscou na Síria. Na Rússia, os confrontos são retratados como um “conflito bem-sucedido” contra grupos islâmicos, que seriam os responsáveis pela maioria das atrocidades contra civis.

Desta vez, porém, as entidades condenaram a participação direta do governo russo em bombardeios indiscriminados de civis, apoio ao uso da tortura pelo regime de Bashar Al-Assad e sua relação em crimes de guerra.

Entidades russas denunciam abusos de Moscou no conflito da Síria
Criança atingida por bombardeios mostra local onde morava em Homs, na Síria, em fevereiro de 2020 (Foto: Unicef/Abdulaziz Al-Droubi)

Segundo o documento, a mídia estatal russa não informa sobre as vítimas dos bombardeios nem sobre o deslocamento forçado de civis – ambos resultados das ações militares da Rússia na Síria.

Em consequência, a população russa não tem conhecimento sobre sobre quem e o que Moscou apoia ou combate no conflito. “É impossível saber quanto esta guerra nos custa e quanto sofrimento infligiu aos civis, pessoas que nunca pegaram em armas”, escreveram os autores.

“Influência implica responsabilidade”, afirma o documento ao pedir que Moscou convença as autoridades sírias a acabar com as prisões arbitrárias, a tortura e o tratamento degradante a prisioneiros de guerra. Os grupos também pedem o fim das execuções extrajudiciais e dos desaparecimentos forçados.

“Força estrangeira destrutiva”

O relatório de 198 páginas levou dois anos para ser concluído e reúne diversos grupos de direitos humanos russos. Há, também, entrevistas com sobreviventes da guerra baseados em países como Rússia, Líbano, Jordânia, Turquia, Alemanha, Bélgica e Holanda, informou o diário britânico “The Guardian”.

“Infelizmente a esmagadora maioria dos nossos entrevistados não vê a Rússia como um salvador, mas como uma força estrangeira destrutiva, cuja intervenção militar e política ajudou a reforçar o criminoso de guerra que comandava o país”, conclui o texto.

A Rússia contribui com o que restou do governo sírio desde 2015, quando Vladimir Putin tornou-se um forte aliado de Assad. Com ajuda do exército russo, do aliado Irã e da milícia libanesa Hezbollah, Assad deteve boa parte da rebelião armada contra seu governo. No momento, está em vigor uma trégua no conflito.

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