O Taleban, que governa o Afeganistão desde a retirada das tropas ocidentais em agosto de 2021, afirmou nesta terça-feira (24) que o rigoroso inverno no país matou 124 pessoas em duas semanas. Os números ilustram o tamanho da crise humanitária local. As informações são da rede BBC.
O cenário é ainda mais grave devido ao fato de que muitas entidades humanitárias foram forçadas a suspender ou reduzir o atendimento depois que a organização jihadista proibiu as mulheres do país de trabalhar para ONGs. Algumas já foram autorizadas a retornar ao trabalho, mas somente nas áreas de saúde e nutrição. Mesmo com o elevado número de óbitos, uma autoridade talibã disse que o decreto não será alterado.
O frio, que fez desabar os termômetros para -35º C em certas regiões, também matou cerca de 75 mil cabeças de gado desde o dia 10 de janeiro, outro evento que tende a piorar a situação em um país duramente afetado pela pobreza e pela fome. Os números, porém, podem ser ainda maiores, já que algumas áreas do país são de difícil acesso, o que prejudica a coleta de dados.
Rigoroso inverno afegão irá piorar cenário de desastre humanitário no país (Foto: WikiCommons)
O ministro interino de Gestão de Desastres, Mullah Mohammad Abbas Akhund, disse que, por conta do excesso de neve, muitas áreas do país estão completamente isoladas. Helicópteros militares foram enviados para o resgate, mas não conseguiram pousar nas regiões mais montanhosas. O acesso terrestre também ficou prejudicado, já que muitas estradas que passam pelas montanhas foram fechadas devido à neve.
“Os carros ficaram presos lá e os passageiros morreram devido às baixas temperaturas”, disse Akhund, que acrescentou que a maioria das pessoas que perderam a vida por causa do frio eram pastores ou pessoas que viviam em áreas rurais. “Elas não tinham acesso a cuidados de saúde”, justificou.
Para evitar uma catástrofe, grupos humanitários se mobilizaram para fornecer roupas quentes, combustível e outros itens capazes de aquecer a população afegã. Ainda assim, falta mão de obra devido ao veto às mulheres, algo que não parece sensibilizar os talibãs. Segundo Akhund, o decreto não poderia ser suspenso e a comunidade internacional precisa aceitar a cultura islâmica local.
“Os homens de todas as famílias já estão participando dos esforços de socorro, então não há necessidade de mulheres”, disse.
A previsão meteorológica, ao menos, traz um alento: as temperaturas devem subir nos próximos dez dias.