Irã estuda múltiplas táticas para bloquear Estreito de Ormuz e eleva o risco para o transporte de petróleo

Plano de Teerã inclui uso de minas, mísseis e submarinos para criar risco à passagem de navios petroleiros sem bloqueio oficial

O Irã aposta em um conjunto de táticas militares para ameaçar o tráfego marítimo no Estreito de Ormuz, uma das rotas mais estratégicas para o comércio mundial de petróleo. O fechamento da via marítima busca criar um ambiente de alto risco na região, sem necessariamente declarar um bloqueio oficial da passagem, de acordo com a revista Newsweek.

Uma das opções consideradas por Teerã é o uso de minas marítimas posicionadas no leito do Estreito, cuja largura em seu ponto mais curto é de pouco mais de 32 quilômetros. Segundo o analista de inteligência H.I. Sutton, especializado em fontes abertas, essas minas são projetadas para explodir com a aproximação de embarcações, causando danos severos e dissuadindo a passagem de outros navios. O Irã já demonstrou domínio dessa técnica em anos anteriores, inclusive por meio de seus aliados Houthis, que têm utilizado o método para interromper o tráfego no Mar Vermelho desde 2023.

Além das minas, outra alternativa é o lançamento de mísseis balísticos antinavio, uma tecnologia com capacidade de atingir embarcações a partir de longas distâncias. O Irã também pode utilizar drones lançados de porta-drones e embarcações rápidas de ataque, além de contar com submarinos da classe Ghadir. Essas pequenas embarcações de curto alcance são capazes de lançar torpedos e instalar minas, aumentando o grau de imprevisibilidade para os navios que tentem cruzar o estreito.

Navios no Estreito de Ormuz, outubro de 2014 (Foto: itoldya420.getarchive.net/WikiCommons)

O contexto atual é marcado por uma escalada de tensões após ataques dos EUA contra instalações nucleares iranianas. Em resposta, o parlamento iraniano concedeu uma aprovação simbólica para o fechamento do Estreito de Ormuz. Antes mesmo dessas ofensivas, o parlamentar Seyyed Ali Yazdi Khah já havia declarado que o Irã poderia ser forçado a adotar a medida como forma de “proteger seus interesses nacionais”, diante da “arrogância global” dos EUA e do Ocidente.

O histórico recente reforça o potencial de risco. Desde 2019, o Irã já usou o Estreito para aplicar pressão política e econômica, com ações como ataques a petroleiros usando minas e a apreensão de um navio de bandeira britânica. Em 2023, a Guarda Revolucionária Islâmica também realizou breves apreensões de navios na região, o que provocou novas mobilizações da Marinha norte-americana.

Segundo a Agência de Informação de Energia (EIA) dos EUA, cerca de 20 milhões de barris de petróleo passam diariamente pelo Estreito de Ormuz, o que representa aproximadamente um quinto do consumo global de líquidos petrolíferos. Esse fluxo permaneceu estável até o primeiro trimestre de 2025.

Especialistas apontam que, mesmo sem um bloqueio formal, o aumento do risco operacional já seria suficiente para gerar um efeito imediato no mercado internacional. Transportadoras podem optar por suspender suas operações na rota caso as condições de segurança se deteriorem ainda mais.

“Os preços do petróleo provavelmente dobrariam, ultrapassando os US$ 100 o barril. A extensão de um choque de preços como esse é incerta”, afirmou Marko Papic, estrategista-chefe da BCA Research, em entrevista à Newsweek.

A infraestrutura alternativa existente, como oleodutos na Arábia Saudita e nos Emirados Árabes Unidos, poderia ajudar a reduzir parte dos impactos. Porém, segundo a EIA, essa capacidade de desvio é limitada e insuficiente para compensar totalmente a perda de fluxo pelo estreito.

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