Irã reprime opositores em meio a descontentamento crescente com Ebrahim Raisi 

Alta nos preços dos alimentos é um dos principais motivos da indignação popular com o regime linha-dura do presidente iraniano

Em meio a protestos populares quase diários, por conta da insatisfação generalizada com uma economia fragilizada pelas sanções dos EUA e com a má administração pública, autoridades iranianas têm ampliado o cerco contra a dissidência. Diversos críticos ao regime na república islâmica estão na mira das forças policiais, de acordo com a rede Radio Free Europe.

Conhecidas vozes de oposição ao governo linha-dura do presidente Ebrahim Raisi foram levadas sob custódia nos últimos dias. Entre elas Mostafa Tajzadeh, um ex-vice-ministro reformista do Interior e agora um ativista de oposição, e os prestigiados cineastas Jafar Panahi e Mohammad Rasulof, vencedor de um Urso de Ouro em Berlim por ‘Não Há Mal’, filme que retrata a pena de morte e a censura estatal. E há outros militantes sendo chamados para dar explicações às autoridades.

Segundo analistas, a repressão é uma tentativa de silenciar o crescente descontentamento popular com questões econômicas que impactam fortemente na sociedade, como a alta nos preços dos alimentos. As manifestações nos últimos meses muitas vezes se tornaram políticas, com manifestantes indignados com a liderança clerical iraniana.

Ebrahim Raisi (centro), presidente eleito do Irã (Foto: Wikimedia Commons)

O clima de turbulência tem como pano de fundo um impasse prolongado nas negociações indiretas EUA-Irã para ressuscitar um acordo nuclear de 2015 e suspender as sanções, acordo que está paralisado.

“A república islâmica sabe que a situação econômica vai piorar”, observou o analista Reza Alijani, acrescentando que semear o medo é uma estratégia do governo. “Também não há esperança de abertura nas negociações nucleares. Portanto, [as autoridades] securitizam ainda mais a atmosfera, pois sabem que provavelmente enfrentarão mais protestos”.

Pelo Twitter, o jornalista local Ahmad Zeidabadi avaliou as recentes prisões de dissidentes como “um ato de desespero”. E declarou: “As autoridades iranianas estão sob pressão de todos os lados. Acho que isso os deixou com raiva e eles tomaram decisões por raiva”.

Na segunda-feira (11), as autoridades prenderam familiares de manifestantes mortos durante uma violenta repressão policial em novembro de 2019, quando dezenas de milhares de pessoas se reuniram em todo o país para protestar contra o aumento repentino do preço da gasolina.

 “O medo é o que os move”, disse sobre o governo Kurosh Zaim, de 83 anos, um ativista pró-democracia e um dos principais membros do partido político banido Frente Nacional do Irã.

Por que isso importa?

O ex-presidente norte-americano Barack Obama foi o responsável pelo histórico acordo de cooperação entre Washington e Teerã, firmado em 2015, para que os iranianos deixassem de investir em armas nucleares. A resolução 2231 da ONU rege o pacto. À época, o então candidato Donald Trump afirmava em campanha que o pacto era “estúpido”. Em 2018, já eleito, ele retirou os EUA do acordo.

Em julho de 2019, o Irã supostamente violou seu limite de estoque de urânio e anunciou sua intenção de continuar enriquecendo urânio, o que representa um risco mais sério de proliferação de armas nucleares. Em junho, recém-eleito, o presidente iraniano Ebrahim Raisi colocou a possibilidade de retomada do acordo em xeque, dizendo que não cederia a pressões e condicionando o pacto às regras impostas por Teerã.

Em setembro do ano passado, Raisi mostrou-se mais flexível quanto à retomada do acordo, mas disse que só o faria mediante à retirada das sanções impostas por Washington, em particular aquelas estabelecidas por Trump. Em discurso à Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), o líder iraniano classificou a punição como “crime contra a humanidade durante a pandemia”.

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