Jornalista iraniano desaparecido na Turquia está em poder da Guarda Revolucionária

O pai de Mohammad Bagher Moradi acredita que seu filho, que buscou asilo na Turquia após fugir do Irã durante o julgamento por sua cobertura de notícias anti-regime, foi sequestrado por agentes iranianos

Mohammad Bagher Moradi, um jornalista dissidente iraniano desaparecido na Turquia em maio, está de volta ao país natal. Porém, sob custódia da temida Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC, na sigla em inglês), instituição militar oficial da República Islâmica. As informações são da rede Radio Free Europe.

Após permanecer detido ilegalmente por cinco meses em Ancara, onde morava há nove anos após fugir do Irã, onde foi condenado a cinco anos de prisão por contestar os abusos do regime, ele foi deportado no início de novembro, relatou Salih Efe, um advogado turco que representa a família do jornalista.

Moradi havia sumido no dia 30 de maio. Segundo seus familiares, naquela data, ele saiu de casa na capital turca para comprar pão e não foi mais visto. O carro dele foi encontrado abandonado no dia seguinte perto da residência, de acordo com a imprensa turca.

Mohammad Bagher Moradi não dava notícias desde maio (Foto: Twitter/Divulgação)

A família do jornalista apresentou uma queixa criminal sobre o desaparecimento e disse ao promotor local que suspeitava de um sequestro. Uma investigação foi iniciada, mas Moradi não foi localizado. Em junho, o pai do dissidente, Mohsen Moradi, declarou à mídia turca que seu filho havia sido “sequestrado” por agentes da “inteligência iraniana”.

No dia 4 de novembro veio o primeiro sinal de vida em meses. Em um telefonema para a família, Moradi relatou que estava de volta ao Irã há poucos dias, sendo mantido sob custódia de “órgãos de inteligência”. Depois disso, fez contato novamente com familiares outras duas vezes.

Na semana passada, a IRGC questionou o pai de Moradi sobre as atividades do filho na Turquia e o orientou a aconselhar o jornalista a fazer uma confissão ao vivo na televisão.

O Irã tem histórico de forçar presos políticos a confessar crimes. Tal prática já foi relatada por muitos ex-detentos após a libertação, sendo que eles confessaram sob coação.

Fronteira com o Irã, a Turquia é um dos principais destinos de dissidentes e ativistas iranianos que fogem do país. No entanto, é um lugar onde a inteligência iraniana age de forma implacável na perseguição a opositores.

Imprensa amordaçada

Jornalistas no Irã têm imensa dificuldade para exercer a profissão, dada a perseguição estatal à mídia independente. No mês passado, o corpo do jornalista iraniano Reza Haghighatnejad, que morreu de câncer na Alemanha, foi apreendido pela Guarda Revolucionária Islâmica. Os restos mortais haviam retornado ao Irã para que fossem enterrados em Shiraz, a cidade natal dele, quando foram reivindicados pelo governo local.

Segundo Washington, a ação de Teerã deixa claro o pavor do governo iraniano em relação aos jornalistas, capazes de expor os erros cometidos pelo regime “mesmo depois de mortos”.

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