Uma proeminente figura do Tehrik-e Taliban Pakistan (TTP), popularmente conhecido como Taleban do Paquistão, escapou de um ataque empreendido contra um esconderijo do grupo no leste do Afeganistão, na quinta-feira (16), de acordo com informações do site The Defense Post.
Dois indivíduos ligados ao TTP disseram que Maulvi Faqir Mohammad era o alvo do ataque na aldeia de Chawgam, na província oriental de Kunar, perto da fronteira com o Paquistão. O local vinha sendo usado como base do grupo extremista, mas o comandante não estava no local naquele momento. As testemunhas disseram que a ação foi realizada por um drone e que outros dois militantes ficaram feridos.
O ataque ocorreu uma semana após o fim do cessar-fogo entre o TTP e o governo paquistanês, com acusações de militantes de que Islamabad voltou a caçar os combatentes. Não está claro quem foi responsável pelo ataque, mas tanto Paquistão quanto Estados Unidos já usaram veículos aéreos não tripulados para ações do gênero.
Mohammad chegou a ser preso pelo governo anterior do Afeganistão e passou anos na famosa prisão de Bagram, mas foi libertado após a tomada do país pelo Taleban em agosto.
Bilal Karimi, um porta-voz do Taleban afegão, contestou a informação do ataque de drone e disse que a explosão foi causada por um dispositivo plantado do solo.
Por que isso importa?
Embora sigam os mesmos preceitos fundamentalistas e sejam ambos grupos sunitas, o Taleban afegão e o homônimo paquistanês são entidades separadas. Porém, o governo do Paquistão aproveitou sua proximidade com os talibãs do Afeganistão para iniciar as negociações com o TTP.
Depois que o Taleban conquistou Cabul, consequentemente assumindo o governo do Afeganistão, o premiê paquistanês declarou que o grupo estava “quebrando as correntes da escravidão”, em vídeo reproduzido pelo jornal britânico The Independent.
Segundo o think tank norte-americano CFR (Conselho de Relações Estrangeiras, da sigla em inglês), uma forte razão para a proximidade entre Paquistão e Taleban é a questão territorial. “As autoridades paquistanesas estão preocupadas com a fronteira com o Afeganistão e acreditam que um governo do Taleban poderia aliviar suas preocupações”, diz a entidade, que destaca a disputa histórica entre os paquistaneses e a etnia pashtun do Afeganistão. “O governo do Paquistão acredita que a ideologia do Taleban enfatiza o Islamismo em vez da identidade pashtun”.
Nos EUA, são comuns as acusações de que o governo paquistanês não apenas dialoga com os talibãs afegãos, mas também os apoia e dá suporte. Segundo especialistas, o ISI, serviço de inteligência paquistanês, apoiou grupos militantes na região da Caxemira, disputada entre Paquistão e Índia. Entre eles, grupos que hoje figuram na lista de organizações terroristas do Departamento de Estado norte-americano.
O CFR ilustra essa desconfiança com uma entrevista do então secretário de Defesa dos Estados Unidos Robert Gates, concedida ao programa 60 Minutes, da rede CBS, em maio de 2009. Na ocasião, ele disse que “até certo ponto, eles jogam dos dois lados”, referindo-se ao ISI.