Ataques a equipes de vacinação contra a pólio fazem novas vítimas no Paquistão

Taleban local não assumiu a autoria do ataque, mas havia realizado uma ação idêntica um dia antes, após o fim do cessar-fogo com o governo

Um agente da polícia paquistanesa foi morto a tiros quando atuava para garantir a segurança de uma equipe que realizava vacinação contra a poliomielite de porta em porta, na cidade de Tank, no noroeste do país. A informação foi divulgada no domingo (12) pelas forças de segurança, que já haviam registrado um incidente semelhante um dia antes, segundo a rede Radio Free Europe (RFE).

Homens armados abriram fogo contra os policiais que acompanhavam os trabalhadores da saúde na campanha de vacinação, e um dos agentes foi morto. Nenhum grupo assumiu a autoria da ação, mas ela é idêntica a outra empreendida um dia antes pelo grupo extremista Tehrik-e Taliban Pakistan (TTP), popularmente conhecido como Taleban do Paquistão, que recentemente encerrou um acordo de cessar-fogo com o governo nacional.

Os extremistas paquistaneses atacam as equipes de vacinação e os oficiais de segurança designados para protegê-los sob a alegação de que as campanhas de vacinação são uma conspiração ocidental para esterilizar crianças. A campanha de imunização acontece em 156 distritos de todo o país e tem como objetivo vacinar mais de 40 milhões de crianças com menos de 5 anos.

Três ataques semelhantes haviam sido registrados em agosto, setembro e outubro deste ano, cada qual com a morte de um agente de segurança. Na última sexta-feira (10), outra ação idêntica ocorreu em Tank, e o TTP assumiu a autoria através de seu porta-voz Muhammad Khurasani, em um comunicado enviado à RFE.

Tehrik-e Taliban Pakistan (TTP, popularmente conhecido como Taleban do Paquistão (Foto: reprodução/Twitter)

Fim do cessar-fogo

No final da última semana, chegou ao fim o cessar-fogo de um mês acordado entre o TTP e o governo paquistanês. Os extremistas acusam Islamabad de não cumprir as promessas feitas antes do acordo, entre elas a libertação de prisioneiros e a formação de um comitê de negociações.

O acordo estava em vigor desde o dia 9 de novembro, com a expectativa de que fosse ampliado além dos 30 dias inicialmente estabelecidos. À época em que o cessar-fogo foi estabelecido, o ministro da Informação paquistanês, Fawad Chaudhry, confirmou a influência do Taleban do Afeganistão para que o acerto fosse possível.

Por que isso importa?

Embora sigam os mesmos preceitos fundamentalistas e sejam ambos grupos sunitas, o Taleban afegão e o homônimo paquistanês são entidades separadas. Porém, o governo do Paquistão aproveitou sua proximidade com os talibãs do Afeganistão para iniciar as negociações com o TTP.

Depois que o Taleban conquistou Cabul, consequentemente assumindo o governo do Afeganistão, o premiê paquistanês declarou que o grupo estava “quebrando as correntes da escravidão”, em vídeo reproduzido pelo jornal britânico The Independent.

Segundo o think tank norte-americano CFR (Conselho de Relações Estrangeiras, da sigla em inglês), uma forte razão para a proximidade entre Paquistão e Taleban é a questão territorial. “As autoridades paquistanesas estão preocupadas com a fronteira com o Afeganistão e acreditam que um governo do Taleban poderia aliviar suas preocupações”, diz a entidade, que destaca a disputa histórica entre os paquistaneses e a etnia pashtun do Afeganistão. “O governo do Paquistão acredita que a ideologia do Taleban enfatiza o Islamismo em vez da identidade pashtun”.

Nos EUA, são comuns as acusações de que o governo paquistanês não apenas dialoga com os talibãs, mas também os apoia e dá suporte. Segundo especialistas, o ISI, serviço de inteligência paquistanês, apoiou grupos militantes na região da Caxemira, disputada entre Paquistão e Índia. Entre eles, grupos que hoje figuram na lista de organizações terroristas do Departamento de Estado norte-americano.

O CFR ilustra essa desconfiança com uma entrevista do então secretário de Defesa dos Estados Unidos Robert Gates, concedida ao programa 60 Minutes, da rede CBS, em maio de 2009. Na ocasião, ele disse que “até certo ponto, eles jogam dos dois lados”, referindo-se ao ISI.

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