O Taleban debochou da rendição militar do Paquistão às forças indianas durante um conflito nos anos 1970, por meio de uma postagem feita no Twitter, na segunda-feira (2), pelo líder da organização jihadista. Ahmad Yasir publicou uma imagem do episódio histórico ocorrido há cinco décadas e disse que Islamabad enfrentaria o mesmo destino “vergonhoso” se lançasse uma ofensiva contra os fundamentalistas que controlam o Afeganistão. As informações são do India Today.
A chacota de Yasir, que vive em Doha, no Catar, ocorreu após o ministro do Interior paquistanês, Rana Sanaullah, sinalizar sobre um possível ataque militar contra os esconderijos em território afegão do Tehrik-e Taliban Pakistan (TTP), popularmente conhecido como Taleban do Paquistão. Segundo Sanaullah, há entre 7 mil e 10 mil combatentes do TTP na região da fronteira Paquistão-Afeganistão.
“Ministro do Interior do Paquistão! Excelente senhor! Afeganistão, Síria e Paquistão não são a Turquia para atacar os curdos na Síria. Este é o Afeganistão, o cemitério de orgulhosos impérios. Não pense em um ataque militar contra nós, caso contrário, haverá uma vergonhosa repetição do acordo militar com a Índia”, tuitou Yasir.
د پاکستان داخله وزیر ته !
— Ahmad Yasir (@AhmadYasir711) January 2, 2023
عالي جنابه! افغانستان سوريه او پاکستان ترکیه نده چې کردان په سوریه کې په نښه کړي.
دا افغانستان دى د مغرورو امپراتوريو هديره.
په مونږ دنظامي يرغل سوچ مه کړه کنه دهند سره دکړې نظامي معاهدې د شرم تکرار به وي داخاوره مالک لري هغه چې ستا بادار يې په ګونډو کړ. pic.twitter.com/FFu8DyBgio
Na imagem postada pelo líder jihadista, o tenente-general do Exército do Paquistão Amir Abdullah Khan Niazi, então governador do Paquistão Oriental (atual Bangladesh), aparece assinando o documento de rendição em Daca. O episódio, ocorrido no dia 16 de dezembro de 1971, é celebrado como “Vijay Diwas“, data em que Niazi rendeu-se às forças conjuntas do exército indiano e de Bangladesh, junto com 93 mil soldados paquistaneses.
Autoridades paquistanesas confirmam que Islamabad pode atacar os esconderijos do TTP no Afeganistão se Cabul não tomar medidas para desmantelá-los.
“Quando esses problemas surgem, primeiro pedimos ao Afeganistão, nossa nação irmã islâmica, que elimine esses esconderijos e nos entregue esses indivíduos. Mas, se isso não acontecer, o que você mencionou (um ataque militar) é possível”, disse Sanaullah, que já havia dito anteriormente que Islamabad tem autoridade legal para agir contra “esconderijos de insurgentes” no Afeganistão no caso de sentir-se ameaçada por tais grupos.
Embora sigam os mesmos preceitos fundamentalistas e sejam ambos grupos sunitas, o Taleban afegão e o homônimo paquistanês são entidades separadas. Porém, o governo do Paquistão aproveitou sua proximidade com os talibãs do Afeganistão para iniciar as negociações com o TTP. O acordo, porém, fracassou, sob a acusação dos talibãs paquistaneses de que Islamabad não respeitou os termos firmados.
Curiosamente, agora os vínculos entre Cabul e Islamabad se deterioram justamente por conta da relações do Taleban com o TTP, que o Paquistão reconhece como uma organização terrorista.
Na semana passada, a facção matou pelo menos seis soldados das forças de segurança paquistanesas na turbulenta província do Baluchistão. O chamado Portão da Amizade, na cidade de Chaman, fronteira do Paquistão com o Afeganistão, foi fechado devido a ataques nos quais vários paquistaneses morreram.
Cessar-fogo
Em novembro, o governo paquistanês e o TTP acordaram um cessar-fogo de um mês, em meio a negociações que esperava-se encerrariam um conflito que já dura 14 anos.
O acordo passou a ter efeito no dia 9 daquele mês, e o ministro da Informação paquistanês, Fawad Chaudhry, disse que o cessar-fogo poderia ser ampliado além dos 30 dias inicialmente estabelecidos e confirmou a influência do Taleban do Afeganistão para que o acerto fosse possível. O pacto não foi adiante.
As ações do TTP, sobretudo atentados a bomba e ataques armados, levaram à morte de dezenas de milhares de pessoas no Paquistão, entre civis e agentes das forças de segurança nacionais. O grupo é acusado por algumas autoridades de ter participado do assassinato do líder do Partido Popular do Paquistão (PPP) e ex-primeiro-ministro Benazir Bhutto, em 2007.