Paquistão acorda cessar-fogo com Taleban local e pode encerrar conflito de 14 anos

Governo e grupo extremista Tehrik-e Taliban Pakistan interrompem conflito enquanto negociam acordo definitivo contestado pela oposição paquistanesa

O governo paquistanês e o grupo extremista Tehrik-e Taliban Pakistan (TTP), popularmente conhecido como Taleban do Paquistão, acordaram um cessar-fogo de um mês, em meio a negociações que podem encerrar um conflito que já dura 14 anos. As informações da rede Gandhara.

O acordo passou a ter efeito nesta terça-feira (9), e o ministro da Informação paquistanês, Fawad Chaudhry, disse que o cessar-fogo pode ser ampliado além dos 30 dias inicialmente estabelecidos e confirmou a influência do Taleban do Afeganistão para que o acerto fosse possível.

Chaudhry também projetou os próximos passos, com as partes criando uma comissão para debater a possibilidade de um acordo definitivo de paz. “As negociações se concentrarão na soberania do Estado, na segurança nacional, na paz e na estabilidade social e econômica nas áreas em questão”, disse.

Primeiro-ministro do Paquistão, Imran Khan (Foto: UN Photo)

“Existem diferentes grupos que formam o TTP, e alguns deles querem falar com nosso governo pela paz. Portanto, estamos conversando com eles. É um processo de reconciliação”, disse o primeiro-ministro do Paquistão, Imran Khan, ao canal de televisão turco TRT World, em 1º de outubro.

As ações do TTP, sobretudo atentados a bomba e ataques armados, levaram à morte de dezenas de milhares de pessoas no Paquistão, entre civis e agentes das forças de segurança nacionais. O grupo é acusado por algumas autoridades de ter participado do assassinato do líder do Partido Popular do Paquistão (PPP) e ex-primeiro-ministro Benazir Bhutto, em 2007.

Atual líder do PPP, que faz oposição a Khan, e filho do ex-primeiro-ministro assassinado, Bilawal Bhutto Zardari acusa o governo de ignorar o PArlamento ao negociar com o TTP. “Quem são eles para implorar ao TTP por negociações e engajar unilateralmente o TTP?” disse. “Qualquer política sem a aprovação do Parlamento não terá legitimidade”.

Zardari também atribuiu ao TTP um ataque em 2014 contra uma escola militar em Peshawar, perto da fronteira com o Afeganistão, que matou pelo menos 150 pessoas, sendo a maioria das vítimas crianças.

Por que isso importa?

Embora sigam os mesmos preceitos fundamentalistas e sejam ambos grupos sunitas, o Taleban afegão e o homônimo paquistanês são entidades separadas. Porém, o governo do Paquistão aproveitou sua proximidade com os talibãs do Afeganistão para iniciar as negociações com o TTP.

Depois que o Taleban conquistou Cabul, consequentemente assumindo o governo do Afeganistão, o premiê paquistanês declarou que o grupo estava “quebrando as correntes da escravidão”, em vídeo reproduzido pelo jornal britânico The Independent.

Segundo o think tank norte-americano CFR (Conselho de Relações Estrangeiras, da sigla em inglês), uma forte razão para a proximidade entre Paquistão e Taleban é a questão territorial. “As autoridades paquistanesas estão preocupadas com a fronteira com o Afeganistão e acreditam que um governo do Taleban poderia aliviar suas preocupações”, diz a entidade, que destaca a disputa histórica entre os paquistaneses e a etnia pashtun do Afeganistão. “O governo do Paquistão acredita que a ideologia do Taleban enfatiza o Islamismo em vez da identidade pashtun”.

Nos EUA, são comuns as acusações de que o governo paquistanês não apenas dialoga com os talibãs, mas também os apoia e dá suporte. Segundo especialistas, o ISI, serviço de inteligência paquistanês, apoiou grupos militantes na região da Caxemira, disputada entre Paquistão e Índia. Entre eles, grupos que hoje figuram na lista de organizações terroristas do Departamento de Estado norte-americano.

O CFR ilustra essa desconfiança com uma entrevista do então secretário de Defesa dos Estados Unidos Robert Gates, concedida ao programa 60 Minutes, da rede CBS, em maio de 2009. Na ocasião, ele disse que “até certo ponto, eles jogam dos dois lados”, referindo-se ao ISI.

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