Milhares de prisioneiros estão entre os afegãos expulsos por Paquistão e Irã

Islamabad e Teerã têm deportado cidadãos estrangeiros com a situação documental irregular, e o Afeganistão é o destino principal

Milhares de indivíduos que cumpriam pena em presídios do Paquistão e do Irã foram deportados para o Afeganistão nas últimas semanas, parte do processo de expulsão de cidadãos estrangeiros com a documentação irregular que vem sendo realizado por esses dois países. As informações são da rede Radio Free Europe (RFE).

Abdul Jabbar Takhari, cônsul-geral do Afeganistão na província paquistanesa de Sindh, diz que somente na região dele houve mais de três mil afegãos que estavam detidos em presídios locais e foram enviados de volta à terra natal. Nesse caso, a medida atinge até quem tinha o direito de viver no Paquistão.

“Durante os últimos dois meses, ao menos 460 afegãos que foram detidos apesar de possuírem documentos legais foram repatriados depois de serem liberado”, afirmou Takhari, acrescentando que ainda há 356 afegãos presos no país.

Mulher apresenta carteira de identidade fornecida pelo governo do Paquistão para os refugiados afegãos (Foto: European Union/ECHO/Pierre Prakash/Flickr)

A situação é semelhante no Irã, embora os números sejam consideravelmente menos expressivos. Na província de Nimroz, no Afeganistão, autoridades locais dizem ter recebido mais de 300 pessoas que estavam detidas em prisões iranianas e foram mandadas embora do país.

Muitos dos afegãos haviam sido presos justamente sob a acusação de viver irregularmente nos países. São, porém, uma parcela pequena entre todos os expulsos. Autoridades paquistanesas e afegãs alegam que mais de 500 mil de pessoas já foram mandadas de volta ao Afeganistão nos últimos três meses por Islamabad.

Teerã, por sua vez, não divulgou números precisos sobre as expulsões já realizadas, mas afirmou que pretende enviar de volta metade dos cerca de cinco milhões de afegãos que estão no território iraniano.

Na semana passada, a rede Voice of America (VOA) afirmou que 835 mil pessoas já haviam retornado do Irã e do Paquistão com destino ao Afeganistão. Na oportunidade, a divisão era de 345 mil expulsos por Teerã e 490 mil expulsos por Islamabad.

Crise humanitária

Três organizações de ajuda humanitária, o Conselho Norueguês para Refugiados (NRC), o Conselho Dinamarquês de Refugiados (DRC) e o Comitê Internacional de Resgate (IRC), relatam que muitas pessoas que fugiram da repressão voltaram ao Afeganistão em condições precárias, segundo a rede ABC News.

Essas agências descreveram as condições como “terríveis”, com muitos enfrentando viagens exaustivas que duram vários dias, sujeitos às intempéries e frequentemente sendo obrigados a abrir mão de seus bens em troca de transporte, conforme declarado em um comunicado conjunto das organizações.

Desde que as pulsões começaram, o número de afegãos atravessando a fronteira de volta a partir do Paquistão aumentou significativamente, atingindo de nove mil a dez mil por dia, em comparação com os cerca de 300 diários registrados anteriormente, de acordo com informações levantadas por equipes de trabalhadores humanitários.

Ao retornarem, eles enfrentam a falta de abrigo, e nesse cenário as agências humanitárias temem pela sobrevivência e reintegração em um país marcado por desastres naturais, décadas de conflitos, economia instável e milhões de deslocados internos.

A ONU (Organização das Nações Unidas) também manifestou preocupação com a situação humanitária e de segurança dos afegãos que retornam ao país, onde chegam sem dinheiro, acolhimento ou proteção, entregues a um regime autoritário e intolerante especialmente com as mulheres.

Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) citou, no início de dezembro, os inúmeros riscos que os afegãos correm no processo de retorno ao país natal. Entre eles, tráfico de pessoas, perseguição religiosa contra minorias étnicas, casamento infantil e forçado no caso de meninas e restrições à educação e à liberdade de circulação no caso das mulheres.

Vida em risco

A situação gera temor especialmente entre os milhares de indivíduos que serviram às forças de segurança afegãs no passado e agora temem retornar ao Afeganistão, onde são tidos como traidores pelo Taleban e por isso correm o risco de prisão ou mesmo execução.

Desde a tomada de poder pelo Taleban, em agosto de 2021, ocorreram ao menos 800 casos de abusos de direitos humanos contra ex-funcionários do governo afegão ou ex-integrantes das forças de segurança nacionais, conforme relatório divulgado em agosto pela Missão de Assistência das Nações Unidas no Afeganistão (Unama, na sigla em inglês).

documento cita 218 execuções extrajudiciais, além de prisões e detenções arbitrárias, tortura, maus-tratos e desaparecimentos forçados perpetrados contra “indivíduos filiados ao antigo governo da República Islâmica do Afeganistão e suas forças de segurança.”

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