Expulsos por países vizinhos, 835 mil afegãos já voltaram a viver sob o regime do Taleban

ONU alertou para os inúmeros problemas que esperam os afegãos em seu país, muitos deles gerados pela repressão talibã

Desde que o Paquistão deu início ao processo de expulsão de cidadãos afegãos sem documentos de permanência, ação que foi seguida por Irã e Turquia, cerca de 835 mil pessoas que viviam nessas condições nos territórios paquistanês e iraniano já foram obrigadas a ir embora, voltando assim a viver sob o violento governo do Taleban no Afeganistão. As informações são da rede Voice of America (VOA).

De acordo com as autoridades talibãs, o Irã já deportou aproximadamente 345 mil pessoas desde o início do processo, em setembro. Abdul Rahman Rashid, ministro dos Refugiados e do Repatriamento, disse que cada família que retornou ao país recebeu uma ajuda financeira e outras formas urgentes de assistência, embora não tenha dado maiores detalhes.

O portão Bab-e-Dosti, passagem entre Paquistão e Afeganistão (Foto: WikiCommons)

Por sua vez, o Paquistão disse que mandou embora do país cerca de 490 mil afegãos sem documentos, apenas uma parte dos cerca dos 1,7 milhão afegãos que viviam ilegalmente por lá antes do expurgo.

A situação gera temor especialmente entre os milhares de indivíduos que serviram às forças de segurança afegãs no passado e agora temem retornar ao Afeganistão, onde são tidos como traidores pelo Taleban e por isso correm o risco de prisão ou mesmo execução.

Desde a tomada de poder pelo Taleban, em agosto de 2021, ocorreram ao menos 800 casos de abusos de direitos humanos contra ex-funcionários do governo afegão ou ex-integrantes das forças de segurança nacionais, conforme relatório divulgado em agosto pela Missão de Assistência das Nações Unidas no Afeganistão (Unama, na sigla em inglês).

documento cita 218 execuções extrajudiciais, além de prisões e detenções arbitrárias, tortura, maus-tratos e desaparecimentos forçados perpetrados contra “indivíduos filiados ao antigo governo da República Islâmica do Afeganistão e suas forças de segurança.”

Outra preocupação levantada pela ONU (Organização das Nações Unidas) é com a situação humanitária e de segurança dos afegãos que retornam ao país, onde chegam sem dinheiro, acolhimento ou proteção, entregues a um regime autoritário e intolerante especialmente com as mulheres.

O Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) citou, no início de dezembro, os inúmeros riscos que os afegãos correm no processo de retorno ao país natal. Entre eles, tráfico de pessoas, perseguição religiosa contra minorias étnicas, casamento infantil e forçado no caso de meninas e restrições à educação e à liberdade de circulação no caso das mulheres.

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