Expulsão por países vizinhos gera pânico entre afegãos perseguidos pelo Taleban

Depois do Paquistão, Irã e Turquia também não aceitam mais a permanência de estrangeiros em situação irregular

Depois do Paquistão, agora é a vez de Irã e Turquia expulsarem cidadãos afegãos em situação burocrática irregular. A medida tem gerado pânico entre os milhares de indivíduos que estão nessas condições e que serviram às forças de segurança afegãs no passado, os quais agora temem ser mortos pelo Taleban caso retornem ao Afeganistão. As informações são da rede Radio Free Europe (RFE).

A ameaça do governo do Irã partiu do ministro do Interior Ahmad Vahidi, que em duas ocasiões prometeu tolerância zero com os estrangeiros irregulares. Se a promessa for cumprida, colocará na mira das autoridades de Teerã cerca de 4,5 milhões de afegãos que se encontram hoje em território iraniano.

Já Ancara deu início ao processo de deportação recentemente, com cerca de 3,9 mil pessoas forçadas a ir embora em voos especiais coordenados pelo governo turco.

No caso do Paquistão, o processo de expulsão pode atingir 1,7 milhão de afegãos sem documentação. Até agora, cerca de 300 mil pessoas já retornaram ao Afeganistão, conforme Islamabad amplia a fiscalização e coloca em prática o processo de deportação.

Soldado britânico conta com o suporte de um tradutor para conversar com um afegão (Foto: Jeffrey Duran/ US Army/Flickr)

Para ex-agentes de segurança, entre eles soldados e policiais, o retorno ao Afeganistão é um risco de vida.

“O governo paquistanês leva as medidas a sério, e nossos vistos expiraram”, disse um ex-militar que teve a identidade preservada por questão de segurança. “Somos deportados, e não há garantia por parte do Emirado Islâmico (governo talibã) para os militares. Estou muito preocupado.”

Logo após tomar o poder, em agosto de 2021, o Taleban chegou a prometer que concederia uma anistia àqueles que serviram ao governo afegão anterior ou mesmo aos que prestaram serviços a governos estrangeiros durante o período de ocupação ocidental, como os tradutores.

Entretanto, ao assumirem o governo, os radicais não cumpriram a promessa, com relatos de indivíduos presos, torturados e executados sob o argumento de que são traidores.

Execuções

Desde a tomada de poder pelo Taleban, ocorreram ao menos 800 casos de abusos de direitos humanos contra ex-funcionários do governo afegão ou ex-integrantes das forças de segurança nacionais, conforme relatório divulgado em agosto pela Missão de Assistência das Nações Unidas no Afeganistão (Unama, na sigla em inglês).

O documento cita 218 execuções extrajudiciais, além de prisões e detenções arbitrárias, tortura, maus-tratos e desaparecimentos forçados perpetrados contra “indivíduos filiados ao antigo governo da República Islâmica do Afeganistão e suas forças de segurança.”

Segundo a Unama, as principais vítimas são ex-membros das Forças Armadas do Afeganistão, das polícias locais e nacional e da Direção Nacional de Segurança, o serviço de inteligência afegão.

Na maioria dos casos, os indivíduos foram detidos pelas forças de segurança de fato, muitas vezes brevemente, antes de serem mortos. Alguns foram levados para centros de detenção e mortos enquanto estavam sob custódia, e outros foram levados para locais desconhecidos e mortos, com os corpos abandonados ou entregues a familiares.

A maioria dos casos ocorreu nos primeiros quatro meses após a tomada de poder, até 31 de dezembro de 2021. Quase metade das 218 execuções extrajudiciais foram realizadas nesse período. As violações de direitos humanos não cessaram depois, embora o ritmo tenha diminuído. Em 2022, por exemplo, foram documentados os assassinatos de 70 ex-agentes do governo por membros do Taleban.

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