Um ataque reivindicado pelos separatistas do Exército de Libertação Baluchi (ELB) colocou em risco a vida de um grupo de cidadãos chineses no Paquistão no domingo (13). A ação rápida das forças armadas paquistanesas permitiu que os alvos escapassem ilesos, segundo informações da rede CNN.
O ELB atacou um comboio que conduzia engenheiros da China na província do Baluchistão, no sudoeste do Paquistão. A região, que sedia diversos projetos financiados por Beijing em parceria com Islamabad, é palco da violência conduzida por grupos separatistas.
Reagindo ao ataque, o exército paquistanês diz ter matado dois agressores, com dois soldados feridos na troca de tiros. O confronto teria durado cerca de duas horas, de acordo com o governo local.
O incidente gerou uma manifestação de repúdio de Beijing. “A China continuará a trabalhar com o Paquistão para prevenir e responder à ameaça do terrorismo e proteger efetivamente a segurança do pessoal, instituições e projetos chineses no Paquistão”, disse Wang Wenbin, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China.
No mesmo comunicado, Wang afirmou que “qualquer tentativa de minar a amizade China-Paquistão e a construção do Corredor Econômico China-Paquistão (CPEC) nunca terá sucesso”.
Por que isso importa?
Cidadãos chineses têm sido regularmente alvo de separatistas baluchis. A rejeição à China está atrelada à relação comercial entre Beijing e Islamabad, que inclui uma série de projetos de infraestrutura chineses no Baluchistão, inseridos na Nova Rota da Seda (BRI, na sigla em inglês, de Belt And Road Initiative).
O Baluchistão se estende por três países, Paquistão, Irã e Afeganistão. É uma região árida, montanhosa e rica em recursos minerais, cujo nome vem dos baluchis, um povo muçulmano essencialmente sunita que é originário do Irã e habita a área.
A porção paquistanesa é a mais extensa e tem sido palco de muita violência nos últimos anos. Grupos separatistas que atuam na região entraram em conflito com o governo do Paquistão, o que gerou milhares de mortes desde 2004. Organizações extremistas islâmicas ajudam a aumentar a tensão.
A luta dos separatistas é por maior autonomia política em relação a Islamabad e pelo direito de explorar os vastos recursos da região. Isso gerou desavenças particularmente com a China, sob a acusação de que o Corredor Econômico China-Paquistão (CPEC), anunciado em 2015, estaria sugando as riquezas sem melhorar as condições da população local.
Com um orçamento de US$ 60 bilhões, o CPEC projeta ligar a cidade portuária de Gwadar, no Baluchistão, a Xinjiang, no noroeste da China, por meio de rodovias e ferrovias. O acordo ainda prevê projetos de energia para atender às necessidades de abastecimento do Paquistão.
Os baluchis argumentam que o projeto bilionário de infraestrutura não tem beneficiado a região, enquanto outras províncias paquistanesas colhem os frutos. O caso gera protestos generalizados, e os chineses são vistos como invasores dispostos a extrair as riquezas locais.
O principal grupo radical atuante no Baluchistão é o Exército de Libertação Baluchi (ELB), que em 2019 foi inserido pelos EUA na lista de grupos terroristas internacionais. A Frente de Libertação do Baluchistão (BLF) é outra organização de forte presença na região.