O que está em jogo com o acordo entre Israel e os Emirados Árabes

Acordo foi considerado "histórico" pelos signatários; é a primeira vez que Tel Aviv estabelece relações com um país do Golfo

Aprovado nesta quinta (13), o acordo de paz entre Israel e os Emirados Árabes Unidos foi definido pelo premiê Benjamin Netanyahu como “histórico” em um rede social. É o primeiro acordo do tipo entre Tel Aviv e um país do Golfo desde a criação do Estado judeu, em 1948.

A expectativa é a de que as relações bilaterais sejam “inteiramente normalizadas”, de acordo com comunicado emitido pelo presidente norte-americano Donald Trump, Netanyahu e o xeique Mohammed bin Zayed, dos Emirados Árabes.

“Essa normalização unirá dois dos parceiros regionais mais confiáveis e capazes dos EUA. Israel e os Emirados Árabes se juntarão aos EUA para lançar uma agenda estratégica para o Oriente Médio”, diz o comunicado.

“[Os três] compartilham de uma visão parecida acerca das ameaças e oportunidades na região.”

O que está em jogo com o acordo de paz entre Israel e os Emirados Árabes
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, na sede da ONU em Nova York EUA, em imagem de 2018 (Foto: UN Photo/Cia Pak)

De maneira informal, Tel Aviv e Abu Dhabi já conversavam a respeito da crescente influência do Irã no Oriente Médio, de acordo com a BBC. Ambos têm Teerã como adversário.

Nas próximas semanas, reúnem-se representantes dos dois países para esquadrinhar as relações bilaterais futuras. Serão montados acordos de investimento, turismo e tecnologia e para o estabelecimento de embaixadas, entre outras questões.

Apenas dois outros países árabes já assinaram acordos de paz com Israel: o Egito, em 1979, e a Jordânia, em 1994.

Histórico de conflito

Nações árabes como Bahrein, Iraque, Arábia Saudita e Kuwait em tese não reconhecem o Estado de Israel nem tem relações diplomáticas com o país.

Na maioria dos casos, um boicote ocorre desde a criação do país, iniciada pela resolução 181 das Nações Unidas, de novembro de 1947, e que culmina na declaração de independência israelense, de 14 de maio de 1948.

A situação deteriorou-se ainda mais com o tempo, chegando a seu ponto mais baixo após a Guerra dos Seis Dias, que ocorreu em junho de 1967.

Alegando “prevenção” contra as políticas pan-arabistas do presidente egípcio Gamal Abdel Nasser, Tel Aviv atacou, e derrotou, a frente de países árabes composta por Egito, Jordânia, Iraque e Síria.

O que está em jogo com o acordo de paz entre Israel e os Emirados Árabes
Deliberação no Conselho de Segurança da ONU por uma resolução para cessar-fogo na Guerra dos Seis Dias, em imagem de 7 de junho de 1967 (Foto: UN Photo/Teddy Chen)

Israel também ocupou territórios vizinhos. A Cisjordânia e a Faixa de Gaza deixaram o controle jordaniano. As Colinas de Golã foram perdidas pela Síria, e a península do Sinai, pelo Egito. Golã permanece ocupada.

Em setembro daquele ano, em uma reunião da Liga Árabe em Cartum, no Sudão, surgiu a política dos Três Nãos. “Não à paz com Israel, não ao reconhecimento de Israel e não a negociações com Israel”, dizia a declaração assinada na capital sudanesa.

Nos anos 1970 e 1980, o boicote a Israel foi diminuindo de forma gradual. O motivo foi o aumento do comércio dessas nações com os israelenses, a princípio de forma ilegal, além das pressões de países ocidentais.

O primeiro a abandonar formalmente o boicote foi o Egito, em 1980. Ao fim da década, cerca de 10% das exportações israelenses eram enviadas a países árabes, com ou sem embargo, via Egito.

Em 2002, a Liga propõe a Iniciativa de Paz Árabe, de retaguarda saudita. O objetivo era normalizar as relações entre os países-membros e Israel, mediante retirada das tropas israelenses dos territórios anexados em 1967.

A tratativa voltou a ser aprovada em cúpulas da Liga Árabe em 2007 e 2017, mas não saiu do papel.

Reação palestina

A primeira consequência do acordo entre Israel e Emirados Árabes é a suspensão dos planos de anexação de partes da Cisjordânia, sob tutela da Autoridade Palestina. Pelo menos por enquanto, afirmou Netanyahu na televisão israelense. “A questão continua na mesa.”

Assim, o premiê acalma os ânimos de setores da direita mais aguerrida, que exigem a anexação da Palestina. Também nubla as críticas que têm cercado seu mandato, que vão de má gestão da crise do coronavírus a manifestações após acusações de corrupção.

O que está em jogo com o acordo de paz entre Israel e os Emirados Árabes
Refugiados palestinos no Líbano, em imagem de 1948 (Foto: UN Photo)

Para o embaixador dos EUA em Abu Dhabi, Yousef al-Otaiba, o anúncio “mantém a viabilidade de uma solução de dois Estados”. “Os Emirados Árabes Unidos continuam apoiando fortemente o povo palestino por sua dignidade, seus direitos e seu Estado soberano”, afirmou, em comunicado.

Os palestinos discordam, informou a BBC. Um alto oficial do governo, Hanan Ashrawi, afirmou ter dito ao xeique Mohammed esperar “que você nunca seja vendido pelos seus ‘amigos'”.

À Reuters, Ashrawi informou que a Autoridade Palestina foi “pega de surpresa” com o comunicado. “Os acordos secretos deles agora estão às claras. Foi uma completa traição”, afirmou.

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