ONU tira coalizão saudita de “lista da vergonha” de crimes contra crianças

Human Rights Watch criticou decisão e aponta violações no Iêmen; ONG denunciou outras ausências, como Mianmar

A ONU retirou a coalizão liderada pela Arábia Saudita de sua última “lista da vergonha”, na qual lista países e grupos que violam direitos das crianças em conflitos armados, incluindo assassinatos e sequestros.

Os nomes incluídos na lista estão sujeitos a sanções do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) e devem se comprometer com um plano de ação para acabar com violações.

Nesta terça (16), a ONG Human Rights Watch chamou atenção para as contínuas violações cometidas contra crianças no Iêmen. O país vive uma guerra civil há cinco anos, financiada em grande medida por Riad.

Depois que os rebeldes derrubaram o então presidente Abd-Rabbu Mansour Hadi, em 2014, a coalizão saudita interveio no país na tentativa de restaurar o antigo governo.

Em um relatório divulgado nesta segunda (15), o secretário-geral da ONU, António Guterres, informou que a coalizão sauditas foi responsável por 222 mortes de crianças e quatro ataques a escolas e hospitais no Iêmen.

Mesmo assim, o nome foi retirado da lista.

O antecessor de Guterres, Ban Ki-moon, já havia retirado a coalizão saudita da lista em 2016. Na sequência, o sul-coreano denunciou chantagem da Arábia Saudita à ONU. Riad teria ameaçado retirar fundos de programas para refugiados palestinos, entre outros.

O atual secretário-geral das Nações Unidas recolocou a coalizão na lista em 2017. Naquele ano, foram atribuídas ao grupo 683 vítimas infantis e 38 ataques a escolas e hospitais.

No entanto, a solução foi colocar os sauditas em uma “nova categoria”, daqueles que “tomam medidas” para “melhorar a proteção das crianças”, segundo a Human Rights Watch.

ONU tira coalizão saudita de "lista da vergonha"
Criança no Iêmen (Foto: Mark Lowcock/Twitter)

Outros países

Ainda segundo a organização, a ONU também deixou de fora outros países. A Rússia, por sua atuação na Síria, Israel, por sua presença no território palestino, e os Estados Unidos e o uso de suas forças no Afeganistão. Já Mianmar foi acusada de recrutar crianças como soldados.

Uma investigação da Comissão de Inquérito da ONU e do jornal norte-americano “The New York Times”, do ano passado, aponta para provas diretas de ataques aéreos russos que mataram civis e crianças na Síria.

No Afeganistão, a ONU registrou 610 baixas infantis, creditadas às Forças Nacionais de Defesa e Segurança Afegãs, e 248 mortes a forças militares internacionais.

A Human Rights Watch destaca que os Estados Unidos são as únicas partes não afegãs envolvidas no conflito. O problema é que não foram incluídos na “lista da vergonha” da ONU, assim como as forças afegãs.

Guterres também apontou 29 mortes de crianças palestinas e 1,4 mil feridos por forças israelenses, que também ficaram de fora da lista.

Mianmar, acusada de 71 casos de recrutamento ou uso de crianças no exército, teve o nome retirado da lista. Isso mesmo sem acabar com as violações verificadas pela ONU.

Nova inclusão

O relatório da ONU destaca a inclusão de Burkina Faso como situação de preocupação, mas não há detalhes sobre as violações cometidas no ano passado.

No país africano, grupos islâmicos armados cometem ataques contra a população civil desde 2016. A Human Rights Watch já documentou 126 ataques e ameaças contra profissionais da educação e estudantes.

Cerca de 2,5 mil escolas já fecharam em Burkina Faso devido aos ataques ou à insegurança.

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