ONU condena repressão de dissidentes no Irã e fala em crimes contra a humanidade

Relatório destaca violações desde protestos de 2022, quando Mahsa Amini foi morta sob custódia por não usar o véu 'corretamente'

Conteúdo adaptado de material publicado originalmente pela ONU News

As autoridades do Irã cometeram violações graves dos direitos humanos e algumas podem configurar crimes contra a humanidade.

A constatação é de um relatório apresentado em Genebra na terça-feira (18) por um grupo de peritos que integram a Missão Internacional Independente de Apuração dos Fatos sobre o Irã, que foi formada pelo Conselho de Direitos Humanos.

“Tortura psicológica” com mulheres, homens e crianças

Na apresentação do trabalho a jornalistas, em Genebra, a presidente da Missão,  Sara Hossain, afirmou que a repressão e vigilância prosseguem no país desde setembro de 2022, quando a jovem iraniana Mahsa Amini, foi morta sob custódia, após ser presa por não estar usando “corretamente” o hijab, o véu que cobria sua cabeça.

Hossain informou que foram coletados testemunhos dentro e fora do Irã para o relatório. As vítimas contaram que homens, mulheres e crianças foram mantidos em alguns casos sob a mira de armas com laços colocados em volta do pescoço em uma forma de tortura psicológica. O documento foi compartilhado com o governo iraniano.

Desde os protestos de 2022 e 2024, autoridades no Irã têm intensificado ações para restringir os direitos dos civis para estancar críticas.

Protesto contra o regime iraniano na Alemanha, em outubro de 2022 (Foto: WikiCommons)
Jovem morta em 2022 tinha origem curda

No relatório, a presidente da Missão lembra que as minorias étnicas no país continuam sendo alvejadas. A jovem Mahsa Amini, presa pela chamada “polícia da moralidade’ em Teerã, era de origem curda.

Desde então, membros da comunidade curdo-iraniana também foram presos. Algumas crianças de até 7 anos de idade foram detidas desde a ofensiva das autoridades aos manifestantes e pessoas que são percebidas como dissidentes do regime iraniano.

A partir de abril de 2024, o Estado tem aumentado o número de julgamentos contra mulheres que não querem usar o véu, o que é obrigatório, no chamado Plano Noor.

Segundo a Missão, defensoras de direitos humanos e ativistas continuam sob sanções penais incluindo multas, prisões e em alguns casos pena de morte. Um outro relatório do Conselho de Direitos Humanos colocou o Irã como número um no mundo em execuções pela pena capital, em 2023.

Repressão em plataformas digitais com software avançado

Segundo outro membro da Comissão Internacional sobre o Irã, Shaheen Sardar Ali, a repressão de autoridades iranianas ocorre também nas redes sociais.

A perita contou que existe uma tendência alarmante sobre silenciar os familiares das vítimas letais dos protestos de rua de 2022 e 2024 impedindo que eles possam prestar tributo à memória dos parentes assassinados.

Segundo ela, os softwares de vigilância de contas em redes sociais são sofisticados com o objetivo de calar a oposição. Contas de Instagram foram fechadas e até chips de celular foram confiscados.

A Missão inclui especialistas em direitos humanos que operaram de forma independente. Eles lembram que a repressão segue ocorrendo apesar das garantias de campanha do atual presidente Masoud Pezeshkian de aliviar as restritas leis sobre uso do véu.

O grupo contou que dez homens foram executados por causa dos protestos de 2022 e pelo menos 11 homens e três mulheres estão no corredor da pena de morte e sem direito a um julgamento justo.

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