Operação contra o EI-K termina com três talibãs mortos no Afeganistão

Governo Taleban enviou tropas para atacar o grupo extremista, que revidou. Confronto durou cerca de duas horas

Uma operação orquestrada pelas forças do Taleban contra o Estado Islâmico-Khorasan, na última segunda-feira (30), no Afeganistão, terminou com quatro pessoas mortas, sendo três talibãs e um membro do grupo terrorista. As informações são do jornal paquistanês Islamabad Post.

O encontro entre as duas facções ocorreu no distrito de Sheigil, província de Kunar, e durou cerca de duas horas. Tropas talibãs foram enviadas ao local para confrontar os integrantes do EI-K, que revidaram.

Esse teria sido o primeiro confronto entre Taleban e EI-K na região desde que os radicais assumiram o governo afegão, em 15 de agosto de 2021.

A inóspita área de Sheringal, onde ocorreu a troca de tiros, é particularmente problemática para as forças talibãs, como o era para os militares durante o período de ocupação estrangeira do Afeganistão. Foi ali que viveu por uma ano Osama Bin Laden, ex-líder da al-Qaeda e mentor dos ataques de 11 de setembro contra os EUA.

Atualmente, aquela região é controlada por Kashmir Khan, ex-comandante do grupo Hezbi Islami, que durante muitos anos combateu as tropas da União Soviética e o governo então socialista do Afeganistão. Atualmente, a facção não armada do Hezbi Islami é um partido político registrado no país.

Homem-bomba do Ei-K no Afeganistão (Foto: reprodução de vídeo)
Rebeldes mortos

Outro incidente violento foi registrado no Afeganistão, este na terça-feira (31). Na ocasião, quatro membros da milícia NRF (Frente de Resistência Nacional) foram mortos por combatentes talibãs na província de Badakhshan, de acordo com a agência Khaama Press.

O Taleban atacou um esconderijo dos rebeldes com tropas terrestres e reforço aéreo, conforme informou o diretor de informação e cultura do governo local, Moizuddin Ahmadi.

A NRF, por sua vez, alega ter matado 15 talibãs no mesmo dia, na província de Panjshir, informação não confirmada pelos radicais que comandam o país.

Por que isso importa?

Embora tenha ganhado notoriedade somente após o Taleban ascender ao poder, o EI-K não é novo no cenário afegão. O grupo extremista opera no Afeganistão desde 2015 e surgiu na esteira da criação do Estado Islâmico (EI) do Iraque e da Síria. Foi formado originalmente por membros de grupos do Paquistão que migraram para fugir da crescente pressão das forças de segurança paquistanesas.

Agora que a ocupação estrangeira no Afeganistão terminou e que o antigo governo foi deposto pelo Taleban, os principais alvos do EI-K têm sido a população civil e os próprios talibãs, tratados como apóstatas pelo Khorasan, sob a acusação de que abandonaram a jihad por uma negociação diplomática.

Os ataques suicidas são a principal marca do EI-K, que habitualmente tem uma alta taxa de mortes por atentado. O mais violento de todos eles ocorreu durante a retirada de tropas dos EUA e da Otan, quando as bombas do grupo mataram 182 pessoas na região do aeroporto de Cabul.

No início de outubro de 2021, dezenas de pessoas morreram em um ataque suicida a bomba contra uma mesquita na província de Kunduz, no nordeste do Afeganistão. Já em novembro, nova ação do EI-K, esta contra um hospital de Cabul, deixou 25 pessoas mortas e cerca de 50 feridas.

Não há diferença substancial entre EI e EI-K, somente o local de origem, a região de Khorasan, originalmente parte do Irã.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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