Paquistão anuncia segunda onda de deportações de migrantes afegãos

Mais de 800 mil afegãos devem ser forçados a deixar o país na segunda fase do polêmico plano de expurgo de Islamabad

Desde o último fim de semana, o Paquistão está a postos para dar início à segunda fase de deportações em massa de migrantes afegãos sem documentos, segundo grupos de direitos humanos e a mídia local. A partir de domingo (30), as autoridades teriam dado início ao polêmico processo de expulsão de mais de 800 mil afegãos do país. As informações são da agência Al Jazeera.

A primeira fase, lançada em novembro do ano passado, expulsou mais de 541 mil pessoas. Entre elas há inclusive indivíduos que antes da tomada de poder pelo Taleban serviram às forças de ocupação estrangeiras no Afeganistão, o que pode torná-los alvo de repressão no retorno à nação de origem. O governo justificou a ação devido ao aumento dos problemas de segurança interna e às preocupações econômicas após a tomada de Cabul pelo grupo extremista em 2021.

A ordem de expulsão foi emitida após um alegado aumento significativo nos ataques armados no Paquistão, que o governo atribui consistentemente a grupos e residentes do Afeganistão, embora o Taleban negue envolvimento.

O maior desafio de segurança de Islamabad é o Tehrik-e Taliban Pakistan (TTP), popular Taleban do Paquistão, que mantém relação cordial com o homônimo afegão, embora sejam entidades separadas.

Mulher apresenta carteira de identidade fornecida pelo governo do Paquistão para os refugiados afegãos (Foto: European Union/ECHO/Pierre Prakash/Flickr)

Os refugiados que não saírem voluntariamente poderão ser presos e deportados. O governo paquistanês relatou cerca de 4,4 milhões de refugiados afegãos, incluindo 1,73 milhão de indocumentados, e justificou a repressão por preocupações de segurança e problemas econômicos.

Filippo Grandi, alto comissário das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) em Islamabad, declarou que o Paquistão deveria investigar as circunstâncias dos afegãos sem documentos antes de deportá-los, pois muitos “necessitam de proteção internacional”.

Segundo Grandi, “os afegãos são refugiados que fugiram e precisam de proteção, não estando envolvidos em atividades terroristas”. E acrescentou: “aqueles que estiverem envolvidos em tais atividades devem ser tratados de maneira separada”.

Crise humanitária

Em dezembro do ano passado, três organizações de ajuda humanitária, o Conselho Norueguês para Refugiados (NRC), o Conselho Dinamarquês de Refugiados (DRC) e o Comitê Internacional de Resgate (IRC), relatam que muitas pessoas que fugiram da repressão voltaram ao Afeganistão em condições precárias.

Essas agências descreveram as condições como “terríveis”, com muitos enfrentando viagens exaustivas que duram vários dias, sujeitos às intempéries e frequentemente sendo obrigados a abrir mão de seus bens em troca de transporte, conforme declarado em um comunicado conjunto das organizações.

Desde que as pulsões começaram, o número de afegãos atravessando a fronteira de volta a partir do Paquistão aumentou significativamente, atingindo de nove mil a dez mil por dia, em comparação com os cerca de 300 diários registrados anteriormente, de acordo com informações levantadas por equipes de trabalhadores humanitários.

Ao retornarem, eles enfrentam a falta de abrigo, e nesse cenário as agências humanitárias temem pela sobrevivência e reintegração em um país marcado por desastres naturais, décadas de conflitos, economia instável e milhões de deslocados internos.

A ONU (Organização das Nações Unidas) também manifestou preocupação com a situação humanitária e de segurança dos afegãos que retornam ao país, onde chegam sem dinheiro, acolhimento ou proteção, entregues a um regime autoritário e intolerante especialmente com as mulheres.

Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) citou, no início de dezembro, os inúmeros riscos que os afegãos correm no processo de retorno ao país natal. Entre eles, tráfico de pessoas, perseguição religiosa contra minorias étnicas, casamento infantil e forçado no caso de meninas e restrições à educação e à liberdade de circulação no caso das mulheres.

Tags: