Washington tenta impedir que Paquistão expulse 25 mil afegãos que aguardam abrigo nos EUA 

Islamabad determinou que estrangeiros em situação irregular deixem o país, o que levou milhares a retornarem ao Afeganistão

O governo norte-americano tem pressionado o Paquistão na tentativa de evitar a expulsão de cerca de 25 mil afegãos que aguardam reassentamento nos EUA. Em outubro, Islamabad deu prazo de um mês para que cidadãos estrangeiros sem documentação deixassem o país. Entre eles estão cerca de 1,7 milhão de afegãos, que já começaram a ser mandadas de volta ao Afeganistão.

De acordo com o jornal paquistanês Dawn, há atualmente no Paquistão cerca de 25 mil afegãos que aguardam o andamento de seus processos para reassentamento em território norte-americano. Uma lista de nomes foi enviada ao governo paquistanês pela embaixada dos EUA em Islamabad, mas em um primeiro momento a relação foi rejeitada.

Refugiadas afegãos na fronteira com o Paquistão (Foto: ONU/Flickr)

“A lista de 25 mil afegãos foi compartilhada com o Paquistão poucos dias antes de expirar o prazo de deportação. Nós a examinamos minuciosamente, mas achamos que era falha e incompleta”, disse à rede Voice of America (VOA) um funcionário do governo paquistanês, que falou sob condição de anonimato por não estar autorizado a discutir o assunto. publicamente.

O que preocupa Washington é o fato de que muitos afegãos serviram a governos ocidentais durante o período de ocupação do Afeganistão e, por isso, tendem a sofrer dura repressão por parte do Taleban caso retornem ao país de origem.

“Estamos em contato próximo e constante com o governo do Paquistão sobre a segurança dos indivíduos no funil para os EUA. A nossa principal preocupação é a segurança dos indivíduos vulneráveis ​​e em risco”, disse o porta-voz da embaixada dos EUA, Jonathan Lalley.

Os indivíduos listados aguardam abrigo nos Estados Unidos, mas o processo é lento. Enquanto ele não é concluído, ficou acordado que o Paquistão os abrigaria. “Era do interesse de ambos os países garantir a reinstalação segura e eficiente dos refugiados afegãos e dos requerentes de asilo”, acrescentou Lalley.

Após a recusa inicial de Islamabad, Washington prometeu revisar a lista, corrigir eventuais equívocos e enviá-la novamente, contanto, então, com o sinal verde paquistanês. Embora o documento inclua 25 mil nomes, estes são apenas os casos candidatos principais. Considerando os familiares, o total de pessoas abrangidas supera as cem mil.

Caos e desespero

Nos últimos dois meses, calcula-se que mais de 250 mil afegãos já deixaram o Paquistão, um processo que tem sido marcado por cenas caóticas e desesperadoras.

Três organizações de ajuda humanitária, o Conselho Norueguês para Refugiados (NRC), o Conselho Dinamarquês de Refugiados (DRC) e o Comitê Internacional de Resgate (IRC), relatam que muitas pessoas que fugiram da repressão voltaram ao país natal em condições precárias, segundo a rede ABC News.

Essas agências descreveram as condições como “terríveis”, com muitos enfrentando viagens exaustivas que duram vários dias, sujeitos às intempéries e, frequentemente, sendo obrigados a abrir mão de seus bens em troca de transporte, conforme declarado em um comunicado conjunto das organizações.

O número de afegãos atravessando a fronteira de volta aumentou significativamente, atingindo de nove mil a dez mil por dia, em comparação com os cerca de 300 diários registrados anteriormente, de acordo com informações levantadas por equipes de trabalhadores humanitários.

Ao retornarem, eles enfrentam a falta de abrigo, e nesse cenário as agências humanitárias temem pela sobrevivência e reintegração em um país marcado por desastres naturais, décadas de conflitos, economia instável e milhões de deslocados internos.

Regras de entrada mais rígidas

O Paquistão decidiu que, a partir de 1º novembro, todos os cidadãos afegãos serão obrigados a entrar no país com passaporte e visto, seguindo a mesma regra aplicada a viajantes de outros países. O objetivo é combater atravessadores ilegais, incluindo militantes e contrabandistas.

A medida, conhecida como “regime de documento único”, substitui a prática de décadas de concessão de autorizações de viagem especiais a indivíduos que vivem em tribos que abrangem a extensa fronteira de quase 2,6 mil quilômetros entre os dois países.

A ordem legal enfatiza que “nenhum outro documento será aceito para viajar do Afeganistão ao Paquistão” e instrui as autoridades de imigração a tomarem as medidas necessárias e a anunciarem essa decisão de forma visível em todos os pontos de passagem ao longo da fronteira.

A situação legal dos afegãos que vivem no Paquistão é frequentemente precária, e muitos deles estão em situação irregular devido à falta de documentação adequada. Eles migram para o país vizinho devido a conflitos, instabilidade política, perseguição do Taleban e falta de oportunidades no Afeganistão.

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