Paquistão afirma que aumento do terrorismo levou país a expulsar cidadãos afegãos

Desde que o processo de detenção de estrangeiros irregulares começou, mais de 300 mil afegãos já deixaram o território paquistanês

Anwar ul-Haq Kakar, primeiro-ministro em exercício do Paquistão, disse na quarta-feira (8) que a decisão de seu governo de expulsar do país cidadãos afegãos em situação irregular é motivada pelo aumento dos episódios de terrorismo em território paquistanês nos últimos meses. As informações são da rede Radio Free Europe (RFE).

De acordo com Kakar, o problema aumentou a partir do momento em que o Taleban assumiu o governo afegão, em agosto de 2021. Ele afirmou que os atentados terroristas tiveram um aumento de 60% a partir daquele momento, matando 2.267 pessoas.

O maior desafio de segurança de Islamabad é o Tehrik-e Taliban Pakistan (TTP), popular Taleban do Paquistão, que mantém relação cordial com o homônimo afegão, embora sejam entidades separadas.

Anwar ul-Haq Kakar, primeiro-ministro em exercício do Paquistão (Foto: twitter.com/anwaar_kakar)

O que hoje surge como um incômodo, entretanto, já foi um trunfo. Em outros tempos, Islamabad aproveitou a proximidade do TTP com os talibãs do Afeganistão para conduzir negociações, entra elas acordos de cessar-fogo mais tarde desrespeitados pelos radicais sob o argumento de que o governo não cumpria sua parte.

Desde a tomada de poder pelo Taleban no país vizinho, o Paquistão diz que suas forças de segurança mataram 64 afegãos em operações de contraterrorismo. Para o governo de Kakar, este é um sinal claro de que o Taleban abriga extremistas e também permite que eles cruzem a fronteira.

Islamabad alega que enviou ao Taleban afegão uma lista de membros do TTP que supostamente estariam se escondendo no Afeganistão, pedindo que fossem presos e enviados de volta. Mas alega que não houve qualquer ação nesse sentido.

Em resposta, o porta-voz do governo talibã, Zabihullah Mujahid, afirmou que a insegurança no Paquistão não pode ser atribuída ao Afeganistão e que a nação vizinha deveria agir dentro de seu próprio território para solucionar a questão.

Retorno forçado

Desde que o processo de detenção de estrangeiros irregulares começou, mais de 300 mil afegãos já deixaram o Paquistão, de forma voluntária ou forçada. Entre eles há inclusive indivíduos que antes da tomada de poder pelo Taleban serviram às forças de ocupação estrangeiras no Afeganistão, o que pode torná-los alvo de repressão no retorno à nação de origem.

Além disso, organizações de ajuda humanitária relatam que muitas pessoas voltam ao país natal em condições precárias. Elas enfrentam viagens exaustivas de vários dias, estão sujeitas às intempéries e são frequentemente obrigadas a abrir mão de seus bens em troca de transporte.

Na chegada, os afegãos sofrem com a falta de abrigo, o que leva as organizações a temerem pela sobrevivência e reintegração desses indivíduos. Eles são forçados a viver em um país marcado por desastres naturais, décadas de conflitos e economia instável, que tem hoje milhões de deslocados internos e uma das mais graves crises humanitárias do mundo.

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