Sobrinha do líder supremo do Irã pede a nações estrangeiras que cortem laços com o país

Vídeo gravado por Farideh Moradkhani, que foi presa na semana passada, surge em meio aos protestos populares que ocorrem em todo o país

Farideh Moradkhani, ativista e sobrinha do líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, gravou um vídeo no qual ela insta os governos estrangeiras a cortarem os laços com Teerã. Ela foi presa na quarta-feira passada (23), em meio aos protestos que se espalharam pelo país desde a morte de uma jovem de 22 anos que estava em poder da polícia. As informações são da rede CNN.

O vídeo foi publicado na internet pelo irmão dela dias depois da prisão. “Oh, pessoas livres, estejam conosco e digam aos seus governos para parar de apoiar este regime assassino e matador de crianças. Este regime não é leal a nenhum de seus princípios religiosos e não conhece nenhuma lei ou regra, exceto a força e a manutenção de seu poder de qualquer maneira possível”, disse ela no vídeo.

Segundo ela, os governos que ainda apoiam Teerã estão agora em guerra com a população do país. Já as nações democráticas que se opõe ao regime deveriam retirar seus representantes do Irã. “Neste momento, o povo do Irã está carregando o fardo dessa pesada responsabilidade sozinho, pagando com suas vidas”, afirmou.

Farideh é filha de Badri, irmã do aiatolá, que fugiu com a família na década de 1980 para o Iraque. A ativista é conhecida no Irã por sua militância contra a pena de morte e pelas liberdades civis no país. Ela, que já havia sido detida em outras ocasiões, agora foi presa quando compareceu ao tribunal para cumprir uma ordem judicial.

O aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã (Foto: WikiCommons)
Por que isso importa?

Nos últimos meses, protestos populares tomaram as ruas do Irã após a morte de Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos que visitava Teerã, capital do país, quando foi abordada pela “polícia da moralidade” por não usar “corretamente” o hijab, o véu obrigatório para as mulheres. Sob custódia, ela desmaiou, entrou em coma e morreu três dias depois.

Os protestos começaram no Curdistão, província onde vivia Mahsa, e depois se espalharam por todo o país, com gritos de “morte ao ditador” e pedidos pelo fim da república islâmica. As forças de segurança iranianas passaram a reprimir as manifestações de forma violenta, com relatos de dezenas de mortes.

No início de outubro, a ONG Human Rights Watch (HRW) publicou um relatório que classifica o regime iraniano como “corrupto e autocrático”, denunciando uma série de abusos cometidos pelas forças de segurança na repressão aos protestos populares.

De acordo com a entidade, em ao menos 13 cidades do Irã foram registrados casos de uso de força excessiva ou letal. O relatório cita vídeos divulgados na internet que mostram agentes estatais usando rifles, espingardas e revólveres indiscriminadamente contra a multidão, “matando e ferindo centenas”.

Já a ONG de Direitos Humanos do Irã (IHRNGO) anunciou no dia 22 de novembro que ao menos 416 pessoas haviam morrido até então devido à violenta repressão aos protestos imposta pelas forças de segurança. Entre elas, 51 crianças.

Além dos mortos e feridos, a HRW cita os casos de “centenas de ativistas, jornalistas e defensores de direitos humanos” que, mesmo de fora dos protestos, acabaram presos pelas autoridades. Condena ainda o corte dos serviços de internet, com plataformas de mídia social bloqueadas em todo o país desde o dia 21 de setembro, por ordem do Conselho de Segurança Nacional do Irã.

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