Taleban anuncia operação contra o EI-K para proteger missões diplomáticas no Afeganistão

Chineses e sauditas estão entre os alvos do grupo extremista, que desde 2021 tem sido o principal inimigo doméstico dos talibãs

O Taleban diz que realizou na noite de segunda-feira (13) uma grande operação contra o Estado Islâmico-Khorasan (EI-K) em Cabul. A ação teria sido uma resposta a ações do grupo terrorista que colocaram em alerta as missões diplomáticas no Afeganistão, segundo informou a rede Voice of America (VOA).

Na semana passada, o governo da Arábia Saudita foi obrigado a evacuar seu corpo diplomático por questões de segurança. Dezenove pessoas deixaram o Afeganistão e não se sabe se retornaram posteriormente. Antes, cidadãos chineses já haviam sido alertados por Beijing para os riscos de serem vítimas do EI-K.

Quando os sauditas realizaram a evacuação, as missões estrangeiras entraram em alerta devido à informação de que o grupo extremista planejava um grande ataque contra instalações diplomáticas no Afeganistão. Rússia e Paquistão também estavam entre os possíveis alvos.

Combatentes do Estado Islâmico-Khorasan no Afeganistão (Foto: reprodução de vídeo)

Pressionado pelas nações estrangeiras devido à insegurança no Afeganistão, o Taleban realizou então a operação de segunda-feira, que teve como alvo um supostos esconderijo do EI-K na capital afegã. Um número incerto de indivíduos acusados de servir à facção morreu no ataque.

“Este era um importante esconderijo do grupo Daesh (sigla usada para se referir ao Estado Islâmico e rejeitada pelo próprio grupo), que esteve envolvido nos recentes ataques e crimes em Cabul”, disse Zabihullah Mujahid, porta-voz do Taleban.

Estrangeiros na mira

Em janeiro deste ano, um ataque suicida deixou ao menos cinco pessoas mortas perto do prédio do Ministério das Relações Exteriores do Afeganistão, em Cabul. A região onde ocorreu a explosão é bastante movimentada e muito policiada, devido à presença de inúmeros edifícios do governo talibã e de embaixadas estrangeiras, como as de China e Turquia.

Já um hotel frequentado sobretudo por chineses foi atacado em dezembro do ano passado, mas terminou sem vítimas civis. Na ocasião, Beijing emitiu um comunicado a seus cidadãos para que deixassem o Afeganistão “o mais rápido possível”.

Wang Wenbin, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, cobrou na ocasião uma “investigação completa” do ocorrido e instou o Taleban a adotar “medidas firmes e resolutas para garantir a segurança dos cidadãos, instituições e projetos chineses no Afeganistão”.

Antes, em setembro de 2022, um terrorista suicida explodiu uma bomba do lado de fora da embaixada da Rússia, matando dois funcionários e quatro afegãos que solicitariam visto. Três meses depois, em dezembro, o chefe do corpo diplomático paquistanês sobreviveu a uma tentativa de assassinato realizada por um suposto atirador do EI-K.

Por que isso importa?

Embora tenha ganhado notoriedade somente após o Taleban ascender ao poder, o EI-K não é novo no cenário afegão. O grupo extremista opera no Afeganistão desde 2015 e surgiu na esteira da criação do Estado Islâmico (EI) do Iraque e da Síria. Foi formado originalmente por membros de grupos do Paquistão que migraram para fugir da crescente pressão das forças de segurança paquistanesas.

Agora que a ocupação estrangeira no Afeganistão terminou e que o antigo governo foi deposto pelo Taleban, os principais alvos do EI-K têm sido a população civil e os próprios talibãs, tratados como apóstatas pelo Khorasan, sob a acusação de que abandonaram a jihad por uma negociação diplomática.

Os ataques suicidas são a principal marca do EI-K, que habitualmente tem uma alta taxa de mortes por atentado. O mais violento de todos ocorreu durante a retirada de tropas dos EUA e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), quando as bombas do grupo mataram 183 pessoas na região do aeroporto de Cabul.

Não há diferença substancial entre EI e EI-K, somente o local de origem, a região de Khorasan, originalmente parte do Irã.

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