Taleban barrou cem mulheres que iriam a Dubai cursar a universidade, diz bilionário

Khalaf Al Habtoor, que ofereceu bolsas de estudo para estudantes afegãs em dezembro de 2022, lamentou a decisão: "um golpe contra a educação"

O líder de um conglomerado empresarial com sede em Dubai informou na quarta-feira (23) que as autoridades talibãs no Afeganistão impediram a viagem de cerca de cem mulheres que estavam com as malas prontas para estudar nos Emirados Árabes Unidos, onde custearia sua educação universitária. As informações são da agência Reuters.

Pelo Twitter, Khalaf Ahmad Al Habtoor, fundador e presidente do Grupo Al Habtoor, comunicou que tinha a intenção de financiar a graduação das estudantes do sexo feminino na Universidade do Dubai. Ele havia providenciado um avião para transportá-las ao país na manhã da quarta.

No vídeo, ele explicou: “O governo do Taleban se recusou a permitir que as meninas que estavam indo estudar aqui, cerca de cem meninas que eu estava patrocinando, embarcassem no avião. Nós já tínhamos pago pela aeronave e organizado tudo para elas: acomodação, educação e transporte seguro.”

A repressão de gênero é uma das principais marcas do governo talibã (Foto: WikiCommons)

Al Habtoor compartilhou um áudio no qual uma das estudantes afegãs relatou ter sido acompanhada por um assistente. No entanto, as autoridades do aeroporto de Cabul impediram que tanto ela quanto outras pessoas embarcassem no voo.

“Nossas aspirações foram esmagadas. As autoridades do Afeganistão, sem justificativa, impediram a sua partida, cerceando injustamente a sua liberdade. Isto representa uma tragédia profunda, um golpe contra os princípios de humanidade, educação, igualdade e justiça”, disse o presidente do Grupo Al Habtoor. “Solicito a todas as partes envolvidas que intervenham rapidamente e ajudem a resgatar e ajudar esses estudantes em dificuldades”.

No Afeganistão, a administração talibã tomou a medida de fechar universidades e escolas secundárias para estudantes do sexo feminino.

Embora os afegãos possam deixar o país, é comum que as mulheres afegãs que viajam para longas distâncias ou para o exterior sejam acompanhadas por um responsável masculino, como o marido, pai ou irmão.

O Ministério das Relações Exteriores do Afeganistão não se pronunciou sobre o caso.

Misoginia

Desde o colapso do governo afegão, a repressão contra mulheres e meninas tem sido marca do Taleban. Elas não podem estudar, trabalhar ou sair de casa desacompanhadas de um homem. A perda do salário por parte de muitas mulheres que sustentavam suas casas tem contribuído para o empobrecimento da população afegã. E foram relatados casos de solteiras ou viúvas forçadas a se casar com combatentes.

Mais recentemente, os radicais proibiram inclusive o trabalho das mulheres afegãs em organizações não governamentais e na ONU (Organização das Nações Unidas), o que levou muitas dessas entidades a suspenderem a ajuda humanitária que ofereciam à população do Afeganistão, uma das mais necessitadas de tal suporte em todo o mundo.

Tags: