Taleban do Paquistão nega envolvimento em ataque que atingiu diplomatas estrangeiros

Mina terrestre explodiu em rodovia e atingiu comboio que levava representantes de 11 países. Um agente de segurança local morreu

A explosão de uma bomba em uma rodovia do Paquistão matou um agente de segurança local e colocou em risco as vidas de diplomatas estrangeiros e seus familiares no domingo (22). O Tehrik-e Taliban Pakistan (TTP), popularmente conhecido como Taleban do Paquistão, negou envolvimento no ataque, segundo informações da rede Radio Free Europe (RFE).

Uma mina terrestre atingiu um veículo de polícia que escoltava uma comitiva composta por diplomatas de diversos países no distrito de Swat, no noroeste do Paquistão. Um agente de segurança morreu em virtude da explosão e outras quatro pessoas ficaram feridas, enquanto os diplomatas e seus familiares escaparam ilesos.

A comitiva tinha representantes de 11 nações: Rússia, Uzbequistão, Turcomenistão, Cazaquistão, Bósnia, Vietnã, Etiópia, Ruanda, Zimbábue, Indonésia e Portugal. Eles retornavam de um evento realizado por empresários com o objetivo de promover o turismo na região.

Por se tratar de uma área com forte atuação do TTP, o grupo foi rapidamente apontado como suspeito. Porém, um porta-voz afirmou que a organização não tem qualquer relação com a explosão.

Tehrik-e Taliban Pakistan (TTP), o popular Taleban do Paquistão (Foto: reprodução/Twitter)

Em março deste ano, cinco engenheiros chineses foram mortos em um ataque a bomba na província de Khyber Pakhtunkhwa, também no norte paquistanês. Um carro-bomba, conduzido por um terrorista suicida, foi usado no ataque.

A responsabilidade foi atribuída a grupos separatistas do Baluchistão, que têm os chineses na mira devido à insatisfação com o Corredor Econômico China-Paquistão (CPEC). Os balúchis argumentam que o projeto não beneficia a região, enquanto outras províncias paquistanesas colhem os frutos. O caso gera protestos generalizados, e os chineses são vistos como invasores dispostos a extrair as riquezas da região.

Por que isso importa?

Embora sigam os mesmos preceitos fundamentalistas e sejam ambos grupos sunitas, o Taleban afegão e o homônimo paquistanês são entidades separadas. Porém, o governo do Paquistão aproveita sua proximidade com os talibãs do Afeganistão para conduzir negociações que incluem ao TTP, entra elas dois acordos de cessar-fogo.

O primeiro pacto ocorreu no ano passado, mas foi interrompido no dia 10 de dezembro, exatamente um mês após ter sido iniciado. Os extremistas do TTP acusaram Islamabad de não cumprir as promessas feitas antes do acordo, entre elas a libertação de prisioneiros e a formação de um comitê de negociações.

À época em que aquele cessar-fogo foi estabelecido, o ministro da Informação paquistanês, Fawad Chaudhry, confirmou a influência do Taleban do Afeganistão para que o acerto fosse possível, embora os grupos homônimos não tenham qualquer tipo de associação oficial. Mais recentemente, em junho de 2022, um novo cessar-fogo foi acordado, e agora foi mais uma vez rompido.

A proximidade entre Islamabad e o Taleban afegão sempre incomodou o Ocidente. Depois que os radicais conquistaram Cabul, consequentemente assumindo o governo do Afeganistão, o então premiê paquistanês Imran Khan declarou que o grupo estava “quebrando as correntes da escravidão”, em vídeo reproduzido pelo jornal britânico The Independent.

Segundo o think tank norte-americano CFR (Conselho de Relações Estrangeiras, da sigla em inglês), uma forte razão para a proximidade entre Paquistão e Taleban é a questão territorial. “As autoridades paquistanesas estão preocupadas com a fronteira com o Afeganistão e acreditam que um governo do Taleban poderia aliviar suas preocupações”, diz a entidade, que destaca a disputa histórica entre os paquistaneses e a etnia pashtun do Afeganistão. “O governo do Paquistão acredita que a ideologia do Taleban enfatiza o Islamismo em vez da identidade pashtun”.

Nos EUA, são comuns as acusações de que o governo paquistanês não apenas dialoga com os talibãs afegãos, mas também os apoia e dá suporte. Segundo especialistas, o ISI, serviço de inteligência paquistanês, apoiou grupos militantes na região da Caxemira, disputada entre Paquistão e Índia. Entre eles, grupos que hoje figuram na lista de organizações terroristas do Departamento de Estado norte-americano.

O CFR ilustra essa desconfiança com uma entrevista do então secretário de Defesa dos Estados Unidos Robert Gates, concedida ao programa 60 Minutes, da rede CBS, em maio de 2009. Na ocasião, ele disse que “até certo ponto, eles jogam dos dois lados”, referindo-se ao ISI.

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