As severas restrições impostas pelos talibãs à educação das mulheres levaram a um aumento no número de escolas clandestinas em todo o Afeganistão, mesmo diante do imenso risco que isso representa para estudantes e professores.
Quando um desses educandários secretos é descoberto, como ocorreu no último sábado (6) em uma sala de aula clandestina de língua inglesa frequentada por cerca de 20 adolescentes em Cabul, o refúgio de aprendizado acaba destruído por agentes do grupo extremista, relatou o jornal britânico The i.
Segundo o relato de uma estudante de 17 anos, que falou sob condição de anonimato, cinco indivíduos armados invadiram o local de estudos e agrediram meninas que estavam com os rostos descobertos. “Foi um pesadelo”, resumiu.
O mau uso do hijab, o véu islâmico obrigatório, é uma das tantas medidas no radar de repressão impostas pelo Ministério para a Promoção da Virtude e Prevenção do Vício. No mês passado, o grupo extremista iniciou uma operação para verificar o uso correto. Dezenas de mulheres foram torturadas e presas desde o dia 1º de dezembro por conta disso.
Na segunda-feira (8), o porta-voz do Taleban, Zabiullah Mujahid, afirmou que as recentes prisões tinham o objetivo de punir grupos que desrespeitaram as normas do hijab em algumas cidades, sendo uma medida temporária.
A liberdade das mulheres no Afeganistão está profundamente limitada desde a ascensão do Taleban ao poder. Restrições incluem a proibição de estudar, trabalhar e sair de casa sem a presença de um homem. Isso resulta na perda de emprego para muitas mulheres, contribuindo para o empobrecimento da população. Em julho, o Taleban também vetou mulheres de gerenciar salões de beleza, impactando severamente a renda de famílias já afetadas pela crise financeira.
Além das limitações profissionais e educacionais, as mulheres enfrentam restrições sociais, como a impossibilidade de frequentar espaços públicos.
As rigorosas regras do Taleban não se limitam a Cabul. Em Mazar-e-Sharif, Behnaz Jafary (nome fictício), de 23 anos, foi presa no mês passado por estar comendo uma sanduíche sem a presença de um “tutor masculino”. E não adiantou explicar que não era casada e que não estava longe de casa, por “não precisaria de um ‘tutor masculino'”, disse à reportagem.
A situação das afegãs foi classificada pela ONU (Organização das Nações Unidas) em setembro de 2023 como “apartheid de gênero”, de acordo com o relator especial da sobre a situação de direitos humanos no Afeganistão, Richard Bennett. Já o alto-comissário de direitos humanos Volker Turk afirmou que “o nível chocante de opressão contra mulheres e meninas afegãs é incomensuravelmente cruel.”
Bennet disse na oportunidade que a discriminação sistemática, generalizada e institucionalizada estabelecida no país tem o objetivo de excluir as mulheres de todas as facetas da vida. Ele pediu ao Taleban que reverta suas “políticas draconianas e misóginas” e lamentou que o Afeganistão tenha se tornado “um lugar onde as vozes das mulheres desapareceram completamente.”