Taleban realiza operação contra o uso incorreto do hijab e prende dezenas de mulheres

Radicais confirmaram a repressora medida e disseram que todas aquelas que não seguirem a lei serão detidas daqui em diante

Dezenas de mulheres foram pesas desde o dia 1º de dezembro no Afeganistão, parte de uma operação do Taleban para reprimir o que considera mau uso do hijab, o véu islâmico obrigatório. A repressora medida foi confirmada pelo Ministério para a Promoção da Virtude e Prevenção do Vício, conforme relatou a rede Radio Free Europe (RFE).

Testemunhas ouvidas pela reportagem confirmaram a ação dos radicais, e uma mulher que presenciou as cenas disse que muitas afegãs foram levadas para “lugares desconhecidos” por agentes do governo, que assumiu o poder em agosto de 2021 após a retirada das tropas estrangeiras lideradas pelos EUA.

Embora tenha confirmado a operação, o Ministério não informou quantas pessoas foram presas, segundo a agência Associated Press (AP). Disse apenas que a denúncia em muitos casos partiu das próprias afegãs, ao avistarem outras mulheres desrespeitando a lei.

O governo talibã também informou que as prisões foram efetuadas por agentes femininas das forças de segurança, embora não tenha deixado claro quais incorreções foram registradas para justificar as prisões.

Refugiadas afegãos na fronteira com o Paquistão (Foto: ONU/Flickr)

“Estas são as poucas mulheres limitadas que espalham o mau hijab na sociedade islâmica”, disse o porta-voz do Ministério, Abdul Ghafar Farooq. “Elas violaram os valores e rituais islâmicos e encorajaram a sociedade e outras irmãs respeitadas a usarem o mau hijab. Em todas as províncias, aquelas sem o hijab serão presas.”

Com base em uma determinação de 2022, as mulheres precisam estar cobertas da cabeça aos pés, com apenas os olhos à mostra.

Sem emprego nem educação

A falta de liberdade das mulheres é uma realidade incontestável no Afeganistão, conforme enfatizou em agosto Mahbouba Seraj, ativista afegã pelos direitos femininos e indicada ao Prêmio Nobel da Paz no ano passado.

Desde a tomada do poder central pelo Taleban, mulheres não podem estudar, trabalhar, nem sair de casa desacompanhadas de um homem. A perda do salário por parte de muitas afegãs que sustentavam suas casas inclusive contribui para o empobrecimento da população.

Em julho, as mulheres foram proibidas também de gerenciar e trabalhar em salões de beleza, um dos últimos redutos onde ainda conseguiam exercer a cidadania com um mínimo de dignidade. O veto matou uma fonte de renda crucial para muitas famílias, duramente afetadas pela profunda crise financeira no país.

Além das proibições profissionais e educacionais, as afegãs enfrentam restrições sociais, impedidas de frequentar espaços públicos como parques e academias. Também são obrigadas a usar o hijab dentro das rígidas normas talibãs e não podem sair de casa sem uma razão específica ou sem a presença de um tutor masculino.

A situação foi classificada pela ONU (Organização das Nações Unidas) em setembro de 2023 como “apartheid de gênero”, de acordo com o relator especial da sobre a situação de direitos humanos no Afeganistão, Richard Bennett. Já o alto-comissário de direitos humanos Volker Turk afirmou que “o nível chocante de opressão contra mulheres e meninas afegãs é incomensuravelmente cruel.” 

Bennet disse na oportunidade que a discriminação sistemática, generalizada e institucionalizada estabelecida no país tem o objetivo de excluir as mulheres de todas as facetas da vida. Ele pediu ao Taleban que reverta suas “políticas draconianas e misóginas” e lamentou que o Afeganistão tenha se tornado “um lugar onde as vozes das mulheres desapareceram completamente.” 

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