Taleban usa mulheres para espionar outras afegãs e impor leis abusivas

Agentes a serviço do governo talibã atuam inclusive na internet, em busca de postagens que desrespeitem as leis islâmicas

Mulheres têm sido recrutadas pelo Taleban para espionar outras afegãs e assim fazer com que sejam cumpridas as duras leis impostas pelos radicais desde que assumiram o governo do Afeganistão, em agosto de 2021. As informações são do jornal The Telegraph.

Embora tenha estabelecido uma série de barreiras para as mulheres no mercado de trabalho, inclusive no serviço público, o Ministério para a Propagação da Virtude e Prevenção do Vício mantém os empregos de algumas delas para que possam agir como espiãs.

“Elas são necessárias para lidar com outras mulheres”, disse um funcionário do Ministério, acrescentando que a fiscalização funciona inclusive na internet.

Segundo a mesma autoridade, um dos focos é o Instagram, onde as agentes talibãs buscam postagens de outras mulheres com os rostos descobertos, algo proibido segundo a interpretação radical da lei islâmica.

Mulher afegã ouve discursos proferidos durante a cerimônia do Dia Internacional da Mulher no Ministério do Interior em Cabul, em março de 2010 (Foto: WikiCommons)

“Você sabe como o Instagram funciona”, disse o funcionário. “Elas podem esconder suas páginas para que ninguém possa vê-las, mas temos mulheres que são nossos olhos.”

Embora algumas das contratadas recebam salários e exerçam a função por vontade própria, há casos de mulheres que são coagidas a espionar as compatriotas. Faz parte da rotina delas inclusive realizar patrulhas de rua ao lado dos homens.

“Algumas mulheres foram presas e liberadas apenas com a condição de que informassem o Ministério sobre qualquer atividade ilegal que observassem das mulheres que seguiam”, disse a fonte.

A fiscalização tem aumentado conforme o Taleban impõe novas e mais severas leis. Um pacote de regras anunciado em agosto proíbe uma série de atividades, incluindo o uso de transporte público, a execução de música e a realização de celebrações.

Entre as rígidas regras impostas, o artigo 13 exige que as mulheres cubram todo o corpo, incluindo o rosto, em público para evitar “tentação”. Elas não podem usar roupas que sejam transparentes, apertadas ou curtas. Além disso, devem se cobrir completamente, mesmo na frente de pessoas que não sejam muçulmanas, para prevenir “corrupção”.

As novas leis consideram até a voz da mulher algo “íntimo demais” para ser ouvido em espaços públicos, o que na prática as proíbe de cantar, declamar ou ler em voz alta. Elas também estão proibidas de olhar para homens que não sejam seus familiares próximos, assim como os homens não podem olhar para mulheres que não sejam suas parentes.

O documento, com 114 páginas e 35 artigos, é a primeira declaração oficial de leis sobre vícios e virtudes desde que o Taleban retornou ao poder2021, representando um passo importante na institucionalização de sua interpretação da lei islâmica.

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