Chefe da Otan alerta para risco de invasão russa na Ucrânia: ‘Preparem-se para o pior’

“Eles já fizeram isso antes”, disse o secretário-geral da aliança, Jens Stoltenberg, citando a questão da Crimeia

Temerosa devido ao acúmulo de tropas e equipamentos militares russos perto da fronteira com a Ucrânia, a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) fez um alerta nesta terça-feira (30). A recomendação é para que Kiev se prepare para o pior, pois a possibilidade de invasão é real e iminente. As informações são da agência Associated Press (AP).

O sinal vermelho foi disparado pelo secretário-geral da aliança, Jens Stoltenberg, receoso com a movimentação perto da fronteira norte do território ucraniano, não muito distante de Belarus. Já Kiev está ciente de que a Rússia manteve aproximadamente 90 mil soldados na região após treinamentos realizados no começo deste ano e que as tropas estariam prontas para a ação.

Na semana passada, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, declarou que seu serviço de inteligência havia descoberto planos para um golpe de Estado apoiado pela Rússia. Moscou nega essa denúncia e rechaça a afirmação de que esteja planejando invadir os vizinhos.

“Pode-se discutir se a probabilidade de uma invasão é de 20% ou 80%, não importa. Precisamos estar preparados para o pior”, disse Stoltenberg durante coletiva de imprensa em Riga, capital da Letônia, após reuniões com ministros das Relações Exteriores da Otan sobre as tensões vindas da Rússia.

Stoltenberg observou aos repórteres que não há clareza sobre as intenções russas, que podem evoluir e mudar. Ele citou a anexação da península da Crimeia em 2014 como exemplo: “Eles já fizeram isso antes”.

Secretário-geral da Otan Jens Stoltenberg durante a reunião da Aliança em Bruxelas (Foto: Otan/Flickr)

O secretário-geral foi questionado sobre o acionamento do sistema de resposta a crises da Otan , que auxilia na análise em situações de instabilidade diplomática e prepara uma reação. “Os aliados concordam que precisamos ter os planos em vigor para ter certeza de que seremos sempre capazes de proteger todos aliados contra qualquer ameaça potencial”, disse ele

Os EUA também fizeram alertas aos aliados europeus sobre os riscos de o conflito vir à tona, compartilhando inteligência. A movimentação de tropas russas, no entanto, é minimizada por alguns países do bloco, que não creem em uma invasão orquestrada por Moscou.

A Ucrânia não é membro da Otan, mas a aliança liderada pelos EUA se diz comprometida com a soberania da ex-república soviética, que vem se aproximando do Ocidente desde 2014 e tem aspirações de fazer parte da organização militar intergovernamental e da União Europeia (UE).

Sanções econômicas

Nesta quarta-feira (1), a Ucrânia declarou que iria solicitar à Otan que estabeleça sanções econômicas contra a Rússia, o que seria um movimento para barrar a incursão das tropas de Moscou no país, noticiou a agência Reuters.

O pedido será levado pelo ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, que participa do segundo dia de reuniões com ministros das Relações Exteriores da Aliança Atlântica na Letônia, em busca de respostas para impedir a pior crise de relações com a Rússia desde a Guerra Fria.

“Vamos pedir aos aliados que se unam à Ucrânia na montagem de um pacote de dissuasão”, disse a autoridade ucraniana.

O Kremlin, por sua vez, não gosta nada da aproximação de Kiev com a Otan. Na terça (30), o presidente Vladimir Putin anunciou que, no caso de a aliança ultrapassar suas linhas vermelhas e implantar mísseis na Ucrânia, a resposta estaria na ponta da língua: uma arma hipersônica recém-testada.

Já nesta quarta (1), Putin falou que Moscou espera por negociações sérias com os EUA e seus aliados para extrair garantias legais que descartariam “qualquer movimento adicional da Otan e armas que ameacem o território russo”.

Blindado do exército da Rússia em exercício perto da fronteira com a Ucrânia (Foto: facebook.com/mod.mil.rus)

Movimentação russa na fronteira

O Ministério da Defesa ucraniano disse que a inteligência do país identificou em novembro que o comando das Forças Armadas russas continuou a fortalecer as capacidades de combate no território temporariamente ocupado nas regiões de Donetsk e Luhansk. Foram identificados carregamentos russos de armas e combustível para a fronteira, segundo a agência estatal de notícias Ukrinform.

As remessas, enviadas secretamente, incluem equipamento militar, armas e munições, equipamento de guerra eletrônica, veículos aéreos não tripulados e outros equipamentos militares, transportados por ferrovias e rodovias dentro do território russo.

“Mais de 3 mil toneladas de combustível, estoques de lubrificantes e fluidos técnicos para a operação de equipamentos e armas foram entregues às unidades inimigas, e outro lote de veículos de combate renovado e modernizado em fábricas de reparos russas foi retornou”, detalhou a inteligência.

Por que isso importa?

tensão entre Ucrânia e Rússia explodiu com a anexação da Crimeia por Moscou. Tudo começou no final de 2013, quando o então presidente da Ucrânia, o pró-Kremlin Viktor Yanukovych, se recusou a assinar um acordo que estreitaria as relações do país com a União Europeia (UE). A decisão levou a protestos em massa que culminaram com a fuga de Yanukovych para Moscou em fevereiro de 2014.

Após a fuga do presidente, grupos pró-Moscou aproveitaram o vazio no governo nacional para assumir o comando da península e declarar sua independência. Então, em março de 2014, as autoridades locais realizaram um referendo sobre a “reunificação” da Crimeia com a Rússia. A aprovação foi superior a 90%.

Após o referendo, considerado ilegal pela ONU (Organização das Nações Unidas), a Crimeia passou a se considerar território da Rússia. Entre outros, adotou o rublo russo como moeda e mudou o código dos telefones para o da Rússia.

O governo russo também apoia os separatistas ucranianos que enfrentam as forças de Kiev na região leste da Ucrânia desde abril de 2014. O conflito armado, que já matou mais de dez mil pessoas, opõe as forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, com suporte militar russo, ao governo ucraniano.

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