Chefe da Otan diz que ‘risco de conflito’ na Europa é real após reunião com a Rússia

Encontro em Bruxelas nesta quarta-feira que discutiu as tensões entre a aliança e Moscou não avançou de forma otimista, relatou Jens Stoltenberg

Após um encontro entre membros da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) nesta quarta-feira (12), o secretário-geral da aliança, Jens Stoltenberg, alertou para o “risco real de um novo conflito armado na Europa”. O temor foi compartilhado depois que as negociações entre os membros do bloco e a Rússia foram encerradas sem boas perspectivas de estancar a crise na Ucrânia, relatou reportagem do jornal britânico The Guardian.

Em Bruxelas, após quatro horas de diálogo envolvendo embaixadores da aliança e uma delegação de Moscou que não baixou a guarda, Stoltenberg disse que a Otan não permitiria à Rússia ditar arranjos de segurança para outros países e estabelecer focos de influência. Então, admitiu: “Existe um risco real de novos conflitos armados na Europa”.

Da esquerda para a direita: Alexander Fomin (ministro da Defesa russo), Alexander Grushko (ministro dos Negócios Estrangeiros russo) e o secretário-geral da Otan Jens Stoltenberg (Foto: Otan/Flickr)

O vice-chanceler russo, Alexander Grushko, colocou lenha na fogueira ao renovar a ameaça da Federação Russa de que ações militares viriam à tona no caso de as medidas políticas não serem suficientes para “neutralizar as ameaças” que seu país alega enfrentar. A fala de Grushko contradiz a declaração de seu colega diplomata Sergei Ryabkov, que garantiu recentemente à imprensa russa que invadir a Ucrânia não era intenção do Kremlin.

Deixando a atmosfera mais tensa, Grushko declarou aos representantes da Otan que “novos desenvolvimentos da situação podem levar às consequências mais imprevisíveis e severas para a segurança europeia”.

Já o vice-ministro da Defesa do país, Alexander Fomin, observou que as relações com a Otan estavam em um “nível criticamente baixo”. Segundo a reportagem, um funcionário do Ministério das Relações Exteriores teria dito a repórteres que “não havia nenhuma agenda positiva” após o encontro.

A agência de notícias independente russa Interfax relata que Fomin atribui a turbulência do momento ao comportamento da Aliança Atlântica, que teria “ignorado” as propostas de segurança russas e criado um ambiente de riscos de “incidentes e conflitos”.

A Rússia rechaça afirmações de que planeja uma incursão contra os vizinhos, mas exige garantias que protejam sua segurança nacional, incluindo a suspensão de qualquer expansão da Otan a leste e a retirada das forças da aliança das nações da Europa Central e Oriental que se juntaram a ela após a Guerra Fria.

Por que isso importa?

tensão entre Ucrânia e Rússia explodiu com a anexação da Crimeia por Moscou. Tudo começou no final de 2013, quando o então presidente da Ucrânia, o pró-Kremlin Viktor Yanukovych, se recusou a assinar um acordo que estreitaria as relações do país com a UE. A decisão levou a protestos em massa que culminaram com a fuga de Yanukovych para Moscou em fevereiro de 2014.

Após a fuga do presidente, grupos pró-Moscou aproveitaram o vazio no governo nacional para assumir o comando da península da Crimeia e declarar sua independência. Então, em março de 2014, as autoridades locais realizaram um referendo sobre a “reunificação” da região com a Rússia. A aprovação foi superior a 90%.

Com base no referendo, considerado ilegal pela ONU (Organização das Nações Unidas), a Crimeia passou a se considerar território russo. Entre outras medidas, adotou o rublo russo como moeda e mudou o código dos telefones para o número usado na Rússia.

Paralelamente à questão da Crimeia, Moscou também apoia os separatistas ucranianos que enfrentam as forças de Kiev na região leste da Ucrânia desde abril de 2014. O conflito armado, que já matou mais de dez mil pessoas, opõe ao governo ucraniano as forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que formam a região de Donbass e contam com suporte militar russo.

Em 2021, as tensões escalaram na fronteira entre os dois países. Washington tem monitorado o crescimento do exército russo na região fronteiriça e compartilhou informações de inteligência com seus aliados. Os dados apontam um aumento de tropas e artilharia russas que permitiriam um avanço rápido e em grande escala, bastando para isso a aprovação de Putin e a adoção das medidas logísticas necessárias.

Especialistas calculam que a Rússia tenha entre 70 mil e 100 mil soldados nas proximidades da Ucrânia, sendo necessária uma força de 175 mil para invadir, além de mais combustível e munição. Conforme o cenário descrito pela inteligência dos EUA, as tropas russas invadiriam o país vizinho pela Crimeia e por Belarus.

Um eventual conflito, porém, não seria tão fácil para Moscou como os anteriores. Isso porque, desde 2014, o Ocidente ajudou a Ucrânia a fortalecer suas forças armadas, com fornecimento de armamento, tecnologia e treinamento. Assim, embora Putin negue qualquer intenção de lançar uma ofensiva, suas tropas enfrentariam um exército ucraniano muito mais capaz de resistir.

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