O governo da Rússia acusa os Estados Unidos de alimentarem a tensão entre Moscou e Kiev, fornecendo armamento e enviando conselheiros militares à Ucrânia. A afirmação, feita nesta terça-feira (23), surge após Washington alertar seus aliados da União Europeia (UE) de que um ataque russo poderia ocorrer no início de 2022, constatação feita com base no aumento de tropas perto da fronteira.
“Conselheiros militares e sistemas de armas estão chegando lá (na Ucrânia). Não apenas dos Estados Unidos, mas também de outros países da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Tudo isso leva a uma nova escalada”, disse Dmitry Peskov, porta-voz do presidente Vladimir Putin, segundo a agência estatal russa Tass. “Repetidamente, afirmamos em vários níveis que a Rússia não vai atacar ninguém, não está traçando planos agressivos. Não é assim”.
No âmbito regional, Peskov diz que a beligerância tem partido da Ucrânia. “Quem vai atacar quem? É Rússia contra Ucrânia ou Ucrânia contra Rússia? As mídias norte-americana e ucraniana afirmam que a Rússia está se preparando para uma agressão contra a Ucrânia, para um ataque. Nós afirmamos que a Ucrânia está planejando ações agressivas contra Donbass, RPL (República Popular de Lugansk) e RPD ( República Popular de Donestk). Essa é uma nuance que deve ser entendida e interpretada corretamente”.
Ataque iminente
Washington tem monitorado o crescimento do exército russo na região da fronteira com a Ucrânia e, na segunda-feira (22), compartilhou informações de inteligência com seus aliados. Os dados apontam um aumento de tropas e artilharia russas que permitiriam um avanço rápido e em grande escala, bastando para isso a aprovação de Putin. O ataque poderia ocorrer no início do próximo ano, de acordo com a rede Bloomberg.
Conforme o cenário descrito pela inteligência dos EUA, as tropas russas invadiriam a Ucrânia pela Crimeia e por Belarus, com potencialmente cem mil soldados. Duas pessoas em Washington que tiveram acesso às informações, cujas identidades são mantidas em sigilo, disseram que cerca de metade desse efetivo já está em posição.
Na semana passada, um funcionário da Casa Branca disse que os EUA consultaram aliados sobre a movimentação militar, alegando que consideram a Ucrânia um parceiro e que irão denunciar todo e qualquer ato agressivo. Moscou, por sua vez, justificou que o posicionamento de forças dentro do seu território é “assunto interno”.
Por que isso importa?
A tensão entre Ucrânia e Rússia explodiu com a anexação da Crimeia por Moscou. Tudo começou no final de 2013, quando o então presidente da Ucrânia, o pró-Kremlin Viktor Yanukovych, se recusou a assinar um acordo que estreitaria as relações do país com a União Europeia (UE). A decisão levou a protestos em massa que culminaram com a fuga de Yanukovych para Moscou em fevereiro de 2014.
Após a fuga do presidente, grupos pró-Moscou aproveitaram o vazio no governo nacional para assumir o comando da península e declarar sua independência. Então, em março de 2014, as autoridades locais realizaram um referendo sobre a “reunificação” da Crimeia com a Rússia. A aprovação foi superior a 90%.
Após o referendo, considerado ilegal pela ONU (Organização das Nações Unidas), a Crimeia passou a se considerar território da Rússia. Entre outros, adotou o rublo russo como moeda e mudou o código dos telefones para o da Rússia.
O governo russo também apoia os separatistas ucranianos que enfrentam as forças de Kiev na região leste da Ucrânia desde abril de 2014. O conflito armado, que já matou mais de dez mil pessoas, opõe as forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, com suporte militar russo, ao governo ucraniano.