O vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov, ameaçou “bombardear” qualquer embarcação que ultrapassar as fronteiras marítimas do país. Em pronunciamento na quinta (24), ele afirmou que “apelaria ao bom senso”. Mas que, se necessário, atiraria em navios estrangeiros.
“Podemos apelar para o bom senso e exigir respeito ao direito internacional. Se isso não ajudar, podemos bombardear não apenas na direção, mas também no alvo, se nossos colegas não entenderem”, disse em registro da agência estatal russa Tass.
A fala ocorre após o destroier britânico HMS Defender avançar três quilômetros sobre as águas territoriais da Crimeia, na quarta-feira. Em resposta, um navio-patrulha russo disparou tiros de advertência enquanto o caça-bombardeiro supersônico Sukhoi-24M lançou bombas à frente da embarcação invasora, que deixou o território.
A agência classificou as águas da região ucraniana anexada pelas tropas de Moscou em 2014 como “águas territoriais da Rússia”. Em dezembro de 2019, a Assembleia-Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) adotou a resolução que rejeita o reconhecimento da península como parte da Rússia.
Conforme Ryabkov, as fronteiras russas obedecem ao lema da navegação livre, mas “passos provocativos” podem desencadear bombardeios. “O que podemos fazer? A segurança do nosso país está em primeiro lugar”, disse. “A integridade territorial da Federação Russa é inviolável. A inviolabilidade de suas fronteiras é um imperativo absoluto, vamos cuidar de tudo isso por meios diplomáticos, políticos e, se necessário, militares”.
O ministério da Defesa russo descreveu as ações do navio britânico como uma “violação grosseira” da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar. O Kremlin instou Londres a investigar as ações da tripulação.
Crimeia em disputa
Integrante do G-7, o Reino Unido apoiou a Ucrânia na disputa pela Crimeia. Em maio, o grupo dos sete países mais ricos do mundo apontou o comportamento de Moscou como “irresponsável e desestabilizador” e incluiu o país no ranking das principais ameaças globais junto da China e da pandemia de Covid-19.
O governo de Vladimir Putin, que vê a Ucrânia como parte fundamental de sua zona de influência, já se opôs à adesão ucraniana à Otan (Organização do Tratado Atlântico Norte) e ao envio de tropas ocidentais para a região.
A crise russo-ucraniana está no ponto de maior tensão desde o mais recente cessar-fogo, em julho de 2020. Desde 2014, quando a guerra de baixa intensidade começou após a derrubada do presidente Viktor Yanukovych, aliado do Kremlin, 14 mil pessoas já morreram.
Entre as demandas dos grupos pró-Moscou estão maior autonomia nas regiões de Donetsk e Lugansk, de maioria étnica russa. Há evidências de que os russos patrocinam a insurgência por meio de auxílio militar e diplomático.