Uma misteriosa base aérea está em construção na ilha vulcânica de Mayun, no Iêmen. Imagens de satélite obtidas pela Associated Press mostram caminhões e tratores trabalhando nas obras de uma pista de pousos e decolagens com 1,85 quilômetro de comprimento.
Uma análise mais recente, feita na terça (18), mostra três hangares ao sul da ilha. Por ora, nenhum país assumiu oficialmente a responsabilidade pela obra, localizada num ponto estratégico para o transporte de carga comercial e de energia.
A principal suspeita é de que a estrutura pertença aos Emirados Árabes Unidos, que em 2016 coordenaram um projeto semelhante no local. Naquela ocasião, a meta era construir uma pista de mais de 3 quilômetros, que comportaria bombardeiros mais pesados.
A obra foi interrompida em 2017, vez que engenheiros sinalizaram para a dificuldade de cavar devido às características geológicas da ilha vulcânica. Dois anos mais tarde, o projeto foi abandonado definitivamente quando Abu Dhabi anunciou a retirada de suas tropas da ofensiva saudita contra os rebeldes houthis.

Agora, a importante localização estratégica da ilha sugere uma retomada nos trabalhos, com atenção especial dedicada ao terreno. A obra atual, com quase a metade da extensão planejada anteriormente, acomoda aeronaves de ataque, vigilância e transporte.
A pista na ilha Mayun permitiria uma projeção de força no estreito de Bab el-Mandeb. Do local, ataques aéreos são capazes de atingir o Iêmen com precisão. A ilha ainda fornece uma base para qualquer operação no Mar Vermelho e no Golfo de Aden.
Uma autoridade do governo reconhecido internacionalmente do Iêmen afirmou, sob condição de anonimato, que Abu Dhabi está por trás da construção. Segundo a fonte, navios do país já transportaram armas, equipamentos e tropas militares para Mayun nas últimas semanas.
O que está por trás de Mayun
O avanço dos houthis no Iêmen, a chance ampliada de o governo local ser derrotado e a recente tensão entre o presidente iemenita, Abed Rabbo Mansour Hadi, e os Emirados Árabes Unidos podem ter forçado a retomada da obra. Abu Dhabi determinou aos iemenitas a assinatura de um contrato de arrendamento de 20 anos para Mayun.
A estrutura teria sido reiniciada por volta de 22 de fevereiro – dias depois de o presidente Joe Biden anunciar que encerraria o apoio dos EUA à ofensiva liderada pela Arábia Saudita contra os houthis.
Recentemente, os Emirados Árabes Unidos desmontaram parcialmente uma base militar que administravam na Eritreia – palco de sua campanha no Iêmen. Essa é mais uma das possíveis motivações para construir em Mayun, local que interessa igualmente a Washington. Em 2015, forças norte-americanas operaram na base aérea de Al-Anad, no Iêmen, contra a Al-Qaeda.
Enquanto as potências vizinhas se voltam ao interesse militar no Iêmen, a população do país devastado pela guerra vive a pior crise humanitária do mundo. Em 2020, a guerra teve o pior avanço desde seu início, em 2014, alertou a ONU (Organização das Nações Unidas).