Otan prepara nova meta de gastos militares e pressiona aliados a investir até 5% do PIB em defesa

Ministros da Defesa se reúnem antes da cúpula em Haia para discutir novas metas de investimento em capacidades bélicas e defesa civil

A Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) vai testar o limite político de seus membros na quinta-feira (5), em Bruxelas, na Bélgica. Na ocasião, ministros da Defesa da aliança se reunirão para discutir o plano mais ambicioso de gastos desde o fim da Guerra Fria: uma meta combinada de 5% do PIB em defesa, incluindo 3,5% em armamentos e 1,5% em áreas como defesa civil e cibersegurança. A proposta será levada à cúpula de líderes nos dias 24 e 25 de junho, em Haia, na Holanda, com a presença do presidente dos EUA, Donald Trump. As informações são da rede Radio Free Europe (RFE).

A maioria dos aliados já cumpre a meta anterior, de investir 2% do PIB em defesa, e Washington agora quer mais. Diplomatas europeus ouvidos pela reportagem disseram que os EUA “simplesmente querem a meta de 3,5% por escrito” na declaração da cúpula, sendo o restante negociável. Nos bastidores, o governo americano também pressiona para que a nova onda de compras militares beneficie fabricantes dos EUA, com foco nos caças F-35 produzidos na Itália ou os sistemas Patriot montados na Alemanha.

Sede da Otan em Bruxelas, na Bélgica (Foto: NATO/Flickr)

A Espanha é o único país que ainda resiste abertamente à nova meta. Em 2023, o país gastou apenas 1,28% do PIB em defesa, abaixo dos 2% exigidos atualmente. O governo de centro-esquerda enfrenta dificuldades para aprovar um aumento de gastos, pressionado por aliados de sua coalizão doméstica que condicionam o apoio político a outra pauta envolvendo nações da Europa: o reconhecimento do catalão, do basco e do galego como línguas oficiais da União Europeia (UE). A proposta foi rejeitada em maio por falta de unanimidade entre os membros do bloco, travando negociações internas em Madri.

Enquanto isso, outros países discutem o que pode ou não entrar na conta de 1,5% de gastos adicionais propostos pela Otan. A ideia é que essa fatia cubra áreas como cibersegurança e defesa civil, mas há tentativas de esticar a lista. A Alemanha batalha para incluir até o financiamento da Deutsche Welle (DW), sua emissora pública internacional, uma articulação para flexibilizar a meta.

O cronograma também está em aberto. A meta inicial era atingir os percentuais propostos até 2032, mas há pressão para estender o prazo até 2035. A liderança da Otan propõe um aumento progressivo de 0,2% do PIB por ano, enquanto vários países preferem manter liberdade para concentrar investimentos em momentos específicos — como em grandes compras de armamentos.

Apoio à Ucrânia

O esforço militar da Otan em apoio à Ucrânia também esteve em pauta na véspera da reunião ministerial. O Grupo de Contato para a Defesa da Ucrânia, conhecido como grupo de Ramstein, reuniu-se em Bruxelas para coordenar novos envios de ajuda. Criado em 2022 e composto por 57 países, funciona como uma coalizão paralela à Otan voltada exclusivamente para o apoio militar a Kiev.

Pela primeira vez desde sua criação, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, não participou do encontro. A ausência dos EUA foi interpretada como sinal de que Washington busca reduzir seu protagonismo nas decisões, agora divididas entre Alemanha e Reino Unido, que assumiram a liderança das conversas.

Segundo a Otan, os países aliados repassaram à Ucrânia cerca de 50 bilhões de euros em ajuda militar ao longo de 2024. A meta estabelecida para este ano é chegar a 40 bilhões de euros adicionais, mas até agora pouco mais da metade foi garantida. O temor entre os membros da aliança é o de que, diante da pressão por elevar os próprios gastos em defesa, vários países priorizem seus orçamentos internos e deixem a meta com a Ucrânia em segundo plano.

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