Otan vê ameaça russa crescer e planeja ter mais de 300 mil soldados em alerta

Secretário-geral diz que Moscou "escolheu o confronto em vez do diálogo" e que a aliança "responde a essa realidade"

De olho na ameaça crescente representada pela Rússia, a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) aumentará em mais de sete vezes o contingente em alerta, superando os 300 mil combatentes de prontidão. O anúncio foi feito nesta segunda-feira (27) pelo secretário-geral Jens Stoltenberg, de acordo com a agência Reuters.

“A Rússia se afastou da parceria e do diálogo que a Otan tenta estabelecer com a Rússia há muitos anos”, disse Stoltenberg em Bruxelas, antes de uma cúpula da Otan a ser realizada no final desta semana em Madrid, na Espanha. “Eles escolheram o confronto em vez do diálogo. Lamentamos isso. Mas é claro que precisamos responder a essa realidade”.

Atualmente, a Otan tem 40 mil soldados em sua força de resposta rápida. De acordo com o secretário-geral, no futuro esse número será “bem superior a 300 mil”. A ideia é implantar um novo sistema de defesa emergencial capaz de “fornecer um conjunto maior de forças de alta prontidão em domínios terra, mar, ar e cibernética, às quais serão pré-atribuídos planos específicos para defender aliados”.

Jens Stoltenberg, secretário-geral da Otan (Foto: Otan/Flickr)

O principal foco de fortalecimento militar da aliança será justamente o flanco oriental, nos países bálticos. A Alemanha também terá mais soldados em alerta, servindo como resposta rápida em caso de agressão. “Isso constitui a maior revisão de nossa dissuasão e defesa coletiva desde a Guerra Fria”, disse o chefe da Otan.

Outra questão que será debatida na cúpula de Madrid é a mudança na forma de abordagem da Rússia, atualmente descrita nos documentos como um parceiro estratégico. “Espero que os aliados afirmem claramente que a Rússia representa uma ameaça direta à nossa segurança, aos nossos valores, à ordem internacional baseada em regras”, disse Stoltenberg.

Ao menos por enquanto, uma questão que não deve ter solução é a oposição da Turquia aos pedidos de adesão da Suécia e da Finlândia. “Não farei promessas ou especularei sobre prazos específicos. A cúpula nunca foi um prazo”, afirmou o secretário-geral, que pretende se reunir com os três países nesta semana.

Por que isso importa?

Criada em 1949 como uma resposta à União Soviética, a Otan tem como finalidade essencial proteger de eventuais agressões externas os Estados-Membros com poder militar reduzido. Atualmente, 30 países fazem parte da aliança, cuja convenção prevê em seu artigo 5º que um ataque contra qualquer um deles é um ataque contra todos eles.

Em meio à guerra na Ucrânia e com a crescente ameaça russa, essa cláusula de solidariedade militar levou Finlândia e Suécia a abandonarem décadas de neutralidade, solicitando o ingresso na aliança. Helsinque, por exemplo, compartilha com Moscou uma fronteira de 1,3 mil quilômetros e se diz ameaçada.

“Tudo mudou quando a Rússia atacou a Ucrânia. E eu, pessoalmente, acho que não podemos mais confiar que haverá um futuro pacífico ao lado da Rússia”, disse a primeira-ministra finlandesa Sanna Marin em abril, classificando a adesão como “um ato de paz, [para] que nunca mais haja guerra na Finlândia no futuro”.

A premiê sueca Magdalena Andersson também manifestou preocupação com a Rússia ao justificar a decisão. “Para garantir a segurança do povo sueco, o melhor caminho a seguir é se juntar à Otan, assim como a Finlândia”.

Moscou, por sua vez, usou a expansão da Otan rumo ao leste como uma das justificativas para a invasão da Ucrânia, devido ao fato de que está cercada de inimigos. E, em maio, deixou sua insatisfação clara novamente, diante da possibilidade de os escandinavos se juntarem à aliança.

“Finlândia, Suécia e outros países neutros participam há anos dos exercícios militares da Otan. A Otan levou em consideração seus territórios ao planejar seu movimento para o leste”, disse o porta-voz do Kremlin Dmitry Peskov.

O vice-ministro das Relações Exteriores Sergei Ryabkov reforçou a posição russa. “Será outro erro grosseiro com consequências de longo alcance. Mas, infelizmente, esse é o nível de sanidade daqueles que estão tomando decisões políticas nos países correspondentes”.

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