As potências europeias estão intensificando os esforços para pressionar o Irã no conselho de fiscalização atômica da ONU (Organização das Nações Unidas), composto de 35 países, com o objetivo de aprovar uma nova resolução na próxima semana, segundo informações da Reuters.
Diplomatas afirmam que a medida visa aumentar a pressão sobre Teerã devido à sua cooperação insuficiente com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), enquanto o mundo aguarda o retorno à presidência dos Estados Unidos de Donald Trump.
A resolução proposta pelas potências europeias, incluindo Alemanha, França e Reino Unido, teria como objetivo solicitar à AIEA a emissão de um “relatório abrangente” sobre o programa nuclear iraniano. Diferente dos relatórios trimestrais usuais, este documento mais detalhado abordaria áreas problemáticas específicas, como a falta de explicações por parte do Irã sobre traços de urânio encontrados em locais não declarados. Esses vestígios continuam a levantar suspeitas sobre a possibilidade de atividades nucleares não declaradas.
O chefe da AIEA, Rafael Grossi, prefere uma diplomacia focada em soluções imediatas, em vez de um relatório abrangente, buscando explicações rápidas sobre vestígios de urânio no Irã e maior cooperação na supervisão nuclear.
De volta às negociações
Diplomatas indicaram que a pressão europeia tem como foco trazer o Irã de volta à mesa de negociações, buscando um acordo que imponha novas limitações ao programa nuclear iraniano em troca de alívio das sanções econômicas. No entanto, esses termos seriam menos abrangentes do que os definidos no histórico acordo nuclear de 2015, do qual os Estados Unidos se retiraram unilateralmente em 2018 sob a administração Trump, levando ao enfraquecimento do pacto.
Desde a retirada dos EUA do acordo, em 2018, o Irã tem violado de maneira gradual as restrições. Seria uma forma de pressionar os demais países a aumentar os incentivos econômicos e compensar as sanções impostas pelos norte-americanos. Desde então, o Irã teria estocado urânio suficiente para produzir uma arma. O governo afirma que o país não tem esse objetivo e que o programa atômico é voltado apenas para a produção de energia.
Embora os Estados Unidos não sejam os principais impulsionadores da nova resolução, fontes revelam que Washington deverá apoiar a iniciativa, assim como fez com a última resolução contra Teerã, aprovada em junho deste ano. A postura americana demonstra uma continuidade na política de pressão máxima sobre o Irã, que persiste mesmo após a troca de administrações.
O acordo fez com que o Irã aceitasse restrições rigorosas ao seu programa nuclear e permitisse inspeções internacionais mais intensas. Em troca, as potências ocidentais buscavam reduzir o risco de um confronto com os rivais regionais do país, limitando suas capacidades nucleares.
“Nossas preocupações sobre o programa nuclear do Irã são bem conhecidas. É lógico solicitar à AIEA um relatório completo, que serviria como base para lidar com o comportamento iraniano”, disse um diplomata europeu. Ele é um dos cinco que confirmaram que França, Reino Unido e Alemanha estão pressionando por uma resolução nesse sentido.
Os esforços ocidentais para negociar um novo acordo com o Irã antes de outubro do próximo ano foram baseados na expectativa de vitória de Kamala Harris nas eleições, dada a oposição de Trump às negociações. Embora os Estados Unidos não tenham liderado a resolução, espera-se que a apoiem, como fizeram com a resolução contra o Irã em junho.
Ainda não se sabe se o novo governo Trump estaria disposto a negociar um acordo considerado por alguns diplomatas como “menos por menos”, em relação ao de 2015.
Embora não haja indicações de que o governo Trump tenha planos de retomar as negociações com Teerã após assumir o poder em janeiro, o presidente eleito declarou durante a campanha: “Não quero prejudicar o Irã, mas eles não podem possuir armas nucleares”.