Ucrânia usa drone armado turco contra separatistas pró-Rússia pela primeira vez

A mesa de negócios que envolve a venda de drones turcos para a Ucrânia irrita os russos, já que a Ancara é parceira de Moscou no setor de defesa

As forças armadas ucranianas anunciaram nesta terça-feira (26) a destruição de uma artilharia de separatistas pró-Rússia em Donbass, no leste do país. A Ucrânia informou que, na ação, fez uso pela primeira vez de um drone turco em uma operação de combate, de acordo com o jornal independente The Moscow Times.

Um vídeo postado na página do exército ucraniano no Facebook mostra o Bayraktar TB2k mirando e atirando em seu alvo. Segundo as autoridades militares do país, a aeronave não tripulada foi usada para forçar os separatistas a cumprir um cessar-fogo.

As forças ucranianas justificaram o ataque ao acusar os separatistas de ferir um soldado e matar outro com o D-30 – um canhão de artilharia de longa distância da era soviética – destruído pelo drone, perto da cidade oriental de Hranitne, na linha de frente.

“O drone foi usado para forçar o inimigo a cessar o fogo. Depois disso, o bombardeio de posições ucranianas parou”, detalhou o comunicado das Forças Armadas da Ucrânia.

De acordo com a agência russa de notícias Interfax, a ofensiva não resultou em mortes de militares ou civis.

A vizinha autoproclamada República Popular de Luhansk, região controlada pelos separatistas, acusa a Ucrânia de violar os acordos de cessar-fogo, que proíbem o uso de drones estrangeiros no front.

Modelo de drone de combate Bayraktar TB2k (Foto: Baykartech/Divulgação)

Parceria de defesa irrita Rússia

O ataque do Bayraktar TB2k foi o primeiro desde que a Turquia entregou a remessa inicial de drones de combate à Ucrânia, em julho. Segundo a fabricante, a empresa privada turca Baykar, o modelo é um “veículo aéreo tático não tripulado de média altitude e longa duração, capaz de realizar missões de inteligência, vigilância e reconhecimento e ataque armado com um alcance de até 27 horas”.

O modelo, emblematicamente, é o mesmo usado em conflitos contra a presença russa na Síria, Líbia e na região de Nagorno-Karabakh, no centro de uma disputa de décadas entre o Azerbaijão e a Armênia.

Segundo a imprensa ucraniana, Kiev tem a intenção de adquirir pelo menos outros 50 drones turcos. Ucrânia e Turquia inclusive assinaram um memorando em setembro para estabelecer um centro conjunto de treinamento e manutenção para drones em território ucraniano. O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia declarou recentemente que planeja construir uma fábrica para produzir as aeronaves no país.

A mesa de negócios que envolve a venda de drones de Ancara para Kiev estabelece uma situação complicada, já que a Turquia é parceira da Rússia no setor de defesa. Tanto que os países têm negociado a transferência de tecnologia e a compra de um segundo sistema antiaéreo S-400 por parte dos turcos. 

Nesta quarta (27), o Kremlin declarou que a parceria no envio das aeronaves da Turquia para a Ucrânia pode desestabilizar o conflito do leste da Ucrânia, apesar das relações “especiais” entre russos e turcos.

Por que isso importa?

Crimeia foi anexada à força por Moscou em março de 2014. A anexação ocorreu após a deposição do então presidente ucraniano Viktor Yanukovych, apoiado pelo Kremlin, e um consequente plebiscito que aprovou a anexação pela Rússia.

Desde a anexação, considerada ilegal pela ONU (Organização das Nações Unidas), instituições de direitos humanos denunciam a resposta agressiva da Rússia aos ativistas e civis da região. Segundo o embaixador da Ucrânia na ONU, Sergiy Kyslytsya, há relatos de prisões “motivadas politicamente” todos os dias.

O governo russo também apoia os separatistas que enfrentam as forças de Kiev na região leste da Ucrânia desde abril de 2014. O conflito já matou mais de 13 mil pessoas.

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