Aliança militar com a Rússia faz de Belarus uma ameaça cada vez maior à Ucrânia

Presidente belarusso fala em armar a fronteira ucraniana, o que pode encurralar uma nação já preocupada com o conflito separatista no leste

A Ucrânia está apreensiva com o fortalecimento da aliança militar entre Belarus e Rússia. Durante as manobras militares conjuntas realizadas pelos dois países na última semana, o presidente belarusso Alexander Lukashenko manifestou a intenção de direcionar para a fronteira ucraniana o sistema de defesa aérea russo S-400, parte de um pacote de armamentos avaliado em US$ 1 bilhão adquirido por Minsk junto a Moscou. As informações são do think tank norte-americano Atlantic Council.

“Devemos nos preparar”, disse Lukashenko no domingo passado (12). “Nossa fronteira com a Ucrânia é de 1,2 mil quilômetros, e discutimos [com Putin] que poderíamos usar os S-400s”, afirmou ele, referindo-se a uma conversa com o líder russo ocorrida dias antes antes das manobras.

Alexander Lukashenko, presidente de Belarus (Foto: reprodução/twitter.com/MOD_BY)

No tal encontro que Lukashenko teve com o presidente russo Vladimir Putin, não apenas a aliança militar foi debatida. Os dois aliados também discutiram a possibilidade de integração econômica entre os dois países, que seria um passo decisivo rumo a uma futura anexação de Minsk por Moscou.

Como a guerra não declarada entre Rússia e Ucrânia não dá sinais de arrefecer, a formação de uma nova e extensa linha de frente no norte do país causa enorme preocupação ao governo ucraniano. É um problema que se somaria à tensão no leste da Ucrânia, onde desde 2014 ocorre um conflito separatista capitaneado por insurgentes pró-Moscou.

Discretamente, a Rússia trabalha para engolir o país vizinho, fato que, se confirmado, cercaria a Ucrânia no norte, no sul e no leste. A situação levou o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky a admitir a possibilidade de uma guerra declarada contra os russos. “Acho que pode haver”, disse ele, segundo a agência Reuters. “É a pior coisa que poderia acontecer, mas infelizmente existe essa possibilidade”.

Entretanto, ao menos até agora, a situação não parece ter despertado grande preocupação entre as nações ocidentais. Por ora, apenas Polônia e Lituânia, dois países na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), manifestaram temor com a situação e encaram as manobras militares russo-belarussas como uma ação provocativa.

E o estopim poderia ser justamente o ingresso da Ucrânia no bloco, algo que vem sendo discutido há tempos e irritaria Moscou profundamente se fosse confirmado. “Não recebemos uma posição direta sobre a adesão da Ucrânia à Otan”, disse Zelensky. “A Ucrânia está pronta há muito tempo”.

Por que isso importa?

A tensão entre Ucrânia e Rússia explodiu com a anexação da Crimeia por Moscou. Tudo começou no final de 2013, quando o então presidente da Ucrânia, o pró-Kremlin Viktor Yanukovych, se recusou a assinar um acordo que estreitaria as relações do país com a União Europeia (UE). A decisão levou a protestos em massa que culminaram com a fuga de Yanukovych para Moscou em fevereiro de 2014.

Após a fuga do presidente, grupos pró-Moscou aproveitaram o vazio no governo nacional para assumir o comando da península e declarar sua independência. Então, em março de 2014, as autoridades locais realizaram um referendo sobre a “reunificação” da Crimeia com a Rússia. A aprovação foi superior a 90%.

Após o referendo, considerado ilegal pela ONU (Organização das Nações Unidas), a Crimeia passou a se considerar território da Rússia. Entre outros, adotou o rublo russo como moeda e mudou o código dos telefones para o da Rússia.

O governo russo também apoia os separatistas ucranianos que enfrentam as forças de Kiev na região leste da Ucrânia desde abril de 2014. O conflito armado, que já matou mais de dez mil pessoas, opõe as forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, com suporte militar russo, ao governo ucraniano.

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