China deixa de divulgar taxa de desemprego juvenil, que está elevada no país

Tendência preocupa a segunda maior economia global, que já lida com os desafios demográficos decorrentes do envelhecimento acelerado de sua população

O desemprego entre os jovens chineses, com idades entre 16 e 24 anos, atingiu níveis alarmantes em 2023. Apesar do cenário negativo, na terça-feira (15), durante uma coletiva de imprensa, Fu Linghui, porta-voz do Departamento Nacional de Estatísticas, anunciou que a divulgação da “taxa de desemprego urbano por idade para jovens” será suspensa a partir de agosto. As informações são da rede Voice of America (VOA).

Em abril, o desemprego alcançou 20,4%, marcando o pior índice desde o início da divulgação pelo órgão governamental em 2018. A situação continuou a deteriorar-se nos meses seguintes, com taxas de 20,8% em maio e 21,3% em junho. Em julho, o governo interrompeu a publicação desses dados, sinalizando os desafios que a segunda maior economia mundial enfrenta ao se recuperar dos rígidos bloqueios pandêmicos impostos pela política de “Zero Covid“.

Fu procurou tranquilizar as preocupações, afirmando que o cenário pode ser distorcido devido ao crescimento do número de jovens urbanos matriculados na escola.

“Os alunos do ensino médio têm como principal foco os estudos, e há opiniões divergentes sobre se os estudantes que procuram emprego antes da graduação devem ser incluídos em pesquisas e estatísticas sobre a força de trabalho”, observou.

Jovens chineses encontram dificuldades de entrar no mercado de trabalho após pandemia (Foto: Unsplash/Divulgação)

Segundo Fu, a maioria dos formandos deste ano já assegurou empregos. “A situação do emprego é, em geral, estável, e a taxa de emprego dos recém-graduados é um pouco maior do que no mesmo período do ano anterior”, afirmou.

Contudo, outras fontes insinuam que a real taxa de desemprego juvenil pode ultrapassar significativamente o que é relatado. Recentemente, a prestigiada revista chinesa Caixin citou um estudo de Zhang Dandan, professor associado da Universidade de Beijing.

O estudo sugere que a taxa de desemprego juvenil poderia alcançar 46,5% se as estatísticas incluíssem os 16 milhões de jovens que optaram por não buscar emprego ou que continuavam vivendo com seus pais. Logo após a publicação, os censores retiraram o artigo da Caixin.

A crescente tendência de aumento do desemprego preocupa a China. Essa inquietação se soma aos desafios demográficos resultantes do envelhecimento rápido da sua população, que enfrenta uma proporção crescente de idosos em relação aos jovens, o que pode impactar diversos setores socioeconômicos, como a previdência e a produtividade.

A China enfrenta críticas por falta de transparência. Durante a pandemia de Covid-19, houve acusações de subnotificação de casos e mortes. Além disso, no início deste ano, as autoridades limitaram abruptamente o acesso internacional aos dados públicos, gerando preocupações sobre a análise das políticas de ciência e tecnologia do país.

Repercussão nas redes

A suspensão dos relatórios de desemprego juvenil na terça-feira gerou rapidamente repercutiu nas redes sociais.

Na plataforma chinesa Weibo, semelhante ao Twitter porém sujeita a censura, um comentário ganhou mais de cinco mil curtidas: “Se você fechar os olhos, desemprego não existe.”

Outro internauta tuitou: “Qual será o próximo termo inventado? Ficar em casa é o novo emprego?”

Um terceiro questionou: “Sem pesquisa, será que a equipe de estatísticas do governo também vai perder o emprego, não é?”.

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