Violência de colonos na Cisjordânia deslocou mais de 1,1 mil palestinos desde 2022, diz ONU

Relatório registrou aproximadamente três incidentes diários envolvendo colonos na região disputada, a média mais alta desde que as Nações Unidas começaram a acompanhar essa tendência em 2006

A violência dos colonos israelenses na Cisjordânia, que têm estabelecido assentamentos em áreas disputadas, forçou mais de 1,1 mil palestinos a se deslocarem desde 2022, conforme um relatório da ONU (Organização das Nações Unidas) divulgado na quinta-feira (21). Este êxodo foi descrito como sem precedentes nos últimos anos, aprofundando a complexidade do conflito israelo-palestino. As informações da agência Associated Press.

O relatório documenta aproximadamente três incidentes relacionados aos colonos por dia na Cisjordânia, a média diária mais alta desde que a ONU começou a registrar em 2006. A violência levou ao esvaziamento completo de cinco comunidades palestinas, enquanto outras seis perderam metade de seus habitantes e sete viram um quarto da população fugir, apontou o estudo.

À medida que os assentamentos israelenses continuam a crescer sob o governo de extrema-direita de Benjamin Netanyahu, os palestinos afirmam que a violência dos colonos israelenses radicais atingiu níveis alarmantes.

Menino palestino cuida das cabras e ovelhas de sua família. Quase todas as comunidades relataram ter de vender parte da sua criação animal após colonos terem cortado o acesso às suas pastagens (Foto: The Advocacy Project/Fickr)

Lynn Hastings, coordenadora humanitária para o território palestino ocupado, afirmou que a ONU registrou níveis “sem precedentes” de violência dos colonos contra os palestinos este ano.

“A comunidade humanitária está respondendo às suas necessidades imediatas, mas não haveria necessidade de assistência humanitária se seus direitos fundamentais fossem respeitados”, disse ela.

Aqueles que deixaram suas casas afirmam que ataques às suas terras e a violência provocada pelos assentamentos em expansão, muitos dos quais foram recentemente construídos nas colinas próximas às aldeias palestinas rurais, os forçaram a sair permanentemente.

Especialistas afirmam que essa tendência está alterando a geografia da Cisjordânia e tornando ainda mais improvável a perspectiva de um Estado palestino independente. Os palestinos buscam a Cisjordânia, Jerusalém Oriental e a Faixa de Gaza, territórios capturados por Israel na guerra de 1967 no Oriente Médio, para o seu futuro Estado.

As aldeias afetadas dependem principalmente da criação de animais e da agricultura para subsistência. Quase todas as comunidades relataram a necessidade de vender parte de seu gado, e 70% precisaram pedir empréstimos para alimentar o rebanho após incursões dos colonos terem bloqueado o acesso às pastagens, de acordo com o relatório.

Mais de um terço dos residentes mudaram sua fonte de renda, com alguns abandonando completamente a criação de animais.

O relatório aponta que as comunidades palestinas com a maior perda populacional estão localizadas em áreas com o maior número de postos avançados de colonatos.

A maioria da comunidade internacional considera os assentamentos ilegais e um grande obstáculo para a paz. Na reunião mais recente entre o presidente Joe Biden e Netanyahu, que ocorreu durante a última Assembleia Geral da ONU, Biden expressou preocupações sobre o tratamento dos palestinos pelo governo israelense.

Foi a primeira vez que Biden e Netanyahu se encontraram desde que o primeiro-ministro assumiu o cargo no final do ano passado. Durante o encontro, o chefe da Casa Branca pediu ao israelense que tome medidas para melhorar as condições na Cisjordânia, especialmente em um momento de aumento da violência na região.

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