Uma operação conjunta de militares norte-americanos e iraquianos, realizada na semana passada no Iraque, terminou com a morte de ao menos 15 membros do Estado Islâmico (EI) e resultou em ferimentos sofridos por sete soldados. A informação foi divulgada somente na sexta-feira (30) pelo Comando Central (Centcom) das Forças Armadas dos EUA.
“Esta operação teve como alvo os líderes do EI para interromper e degradar a capacidade do grupo de planejar, organizar e conduzir ataques contra civis iraquianos, bem como contra cidadãos americanos, aliados e parceiros em toda a região e além”, diz o comunicado do Centcom.
Enquanto os EUA falam em 15 insurgentes mortos, um comunicado divulgado pelas Forças Armadas iraquianas cita uma vítima a menos, segundo a rede NBC News. No caso dos militares feridos, dois tiveram que ser evacuadas para tratamento, mas o boletim mais recente indica que não correm risco de morte.
“Devido à dificuldade geográfica da área e para garantir a surpresa do inimigo e de seus líderes entrincheirados, ataques aéreos consecutivos e surpresa foram realizados em todos os esconderijos, seguidos de uma operação aerotransportada”, diz a declaração do governo do Iraque, citada pelo jornal The Washington Post.

Além de neutralizar extremistas, a ação militar permitiu a destruição de esconderijos, armas e veículos usados pelo EI, com documentos e aparelhos eletroeletrônicos, como computadores e celulares, apreendidos.
“As Forças de Segurança Iraquianas continuam a explorar ainda mais os locais invadidos”, acrescenta o Centcom. “O EI continua sendo uma ameaça à região, aos nossos aliados, assim como à nossa terra natal. O Centcom dos EUA , juntamente com nossa coalizão e parceiros iraquianos, continuará a perseguir agressivamente esses terroristas. “
Por que isso importa?
O Estado Islâmico (EI) passou por um processo de enfraquecimento que começou com a derrota da organização em seus dois principais redutos. No Iraque, o exército iraquiano retomou todos os territórios que o grupo dominava desde 2014. Já as FDS (Forças Democráticas Sírias), uma milícia curda apoiada pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pela facão extremista na Síria.
Desde fevereiro de 2022, o EI sofreu diversos duros golpes, com três líderes da organização mortos em operações de combate ao terrorismo. O mais recente deles foi Abu al-Hussein al-Husseini al-Qurashi, morto em abril. O governo turco reivindicou a ação, embora a própria organização terrorista alegue que o comandante morreu em confronto com o Hayat Tahrir Al-Sham (HTS), uma organização extremista associada à Al-Qaeda e listada pelo governo norte-americano como terrorista.
Ultimamente, porém, os EUA relatam um ressurgimento do grupo extremista que se concentra na Síria, onde novos seguidores são treinados para atuar como homens-bomba. Diante de tal cenário, dobraram em 2024 os ataques contra as forças aliadas de combate ao terrorismo, que ocorrem também no Iraque.
Mas o continente onde a facção mantém presença mais relevante é a África, através de afiliados locais. Um deles é o Estado Islâmico no Grande Saara (EIGS), que ampliou sua área de atuação, com aumento de ataques no Mali, em Burkina Faso e no Níger. Ainda tenta alcançar a Nigéria para fins logísticos e de recrutamento, possivelmente em colaboração com o ISWAP” (Estado Islâmico da África Ocidental).
“Apesar do progresso feito no direcionamento de suas operações financeiras e quadros de liderança, a ameaça representada pelo Daesh (sigla árabe para se referir ao grupo) e suas afiliadas regionais permaneceu alta e dinâmica nas amplas áreas geográficas onde está presente”, diz relatório divulgado em agosto de 2023 pela ONU (Organização das Nações Unidas).
Terrorismo no Brasil
Episódios recentes mostram que o Brasil é visto como porto seguro pelos extremistas e é, também, um possível alvo de ataques. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al-Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.
Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao EI foram presos e dois fugiram.
Mais tarde, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles foram acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.
A ameaça voltou a ser evidenciada com a prisão, em outubro de 2023, de três indivíduos supostamente ligados ao Hezbollah que operavam no Brasil. Eles atuavam com a divulgação de propaganda do grupo extremista e planejavam atentados contra entidades judaicas.
Para o tenente-coronel do exército brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), tais episódios causam “preocupação enorme”, vez que confirmam a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.
“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras).
A opinião é compartilhada por Barbara Krysttal, gestora de políticas públicas e analista de inteligência antiterrorismo.
“O Brasil recorrentemente, nos últimos dez, cinco anos, tem tido um aumento significativo de grupos terroristas assediando jovens e cooptando adultos jovens para fazer parte de ações terroristas no mundo todo”, disse ela, que também vê o país sob ameaça de atentados. “Sim, é um polo que tem possibilidade de ser alvo de ações terroristas.”