O governo de Uganda anunciou a suspensão imediata de toda a cooperação militar com a Alemanha, após acusar o embaixador alemão no país, Mathias Schauer, de envolvimento em “atividades subversivas” e de ser “totalmente desqualificado” para atuar no país africano. A decisão, comunicada pelo porta-voz do Exército ugandense, marca uma escalada nas tensões diplomáticas entre as duas nações, conforme relato da rede BBC.
A acusação, feita sem a apresentação de provas, surgiu dias depois de Schauer manifestar preocupação com declarações polêmicas do comandante das Forças Armadas, general Muhoozi Kainerugaba, filho do presidente Yoweri Museveni. Durante uma reunião com diplomatas da União Europeia (UE), o embaixador teria alertado para os danos à reputação internacional de Uganda causados pelas postagens do general nas redes sociais.

Recentemente, Kainerugaba ameaçou decapitar o líder oposicionista Robert Kyagulanyi, conhecido como Bobi Wine, e se gabou de ter torturado um segurança do político. “Estou tendo problemas com o embaixador alemão que dizem respeito à pessoa dele”, escreveu o general na plataforma X. “Ele é totalmente desqualificado para estar em Uganda. Isso não tem nada a ver com o grande povo alemão, que admiro muito.”
Em nota, o Ministério das Relações Exteriores da Alemanha rebateu as acusações, que um porta-voz da pasta classificou como “absurdas e sem qualquer fundamento”.
Uganda vive um ambiente político tenso a menos de um ano das eleições presidenciais. Bobi Wine é cotado para disputar novamente a presidência contra Museveni, que está no poder há quase 40 anos. Grupos de direitos humanos acusam o governo de perseguir opositores e restringir liberdades civis.
Críticos também apontam que o país é governado como uma dinastia familiar: a primeira-dama Janet Museveni comanda o Ministério da Educação, e o cunhado do presidente, general Salim Saleh, lidera o programa estatal “Operação Criação de Riqueza”.
A Alemanha mantém relações comerciais com Uganda estimadas em US$ 335 milhões. Segundo a embaixada alemã em Kampala, a parceria bilateral tem como base “estabilidade e confiança”, mas não foram detalhadas as iniciativas militares mantidas entre os países. Uganda participa de missões de paz como a operação na Somália, onde combate grupos islâmicos armados.
Em comunicado, o coronel Chris Magezi, porta-voz do Exército, afirmou que a suspensão da cooperação continuará “até a resolução completa da questão do envolvimento do embaixador com forças pseudo político-militares que atuam no país contra o governo ugandense”. O texto, no entanto, não apresentou provas para sustentar a alegação.