A China restabeleceu a suspensão total das importações de frutos do mar japoneses, reacendendo uma das maiores crises diplomáticas recentes entre os dois países. O bloqueio ocorre após declarações da primeira-ministra do Japão, Sanae Takaichi, que afirmou no parlamento que o país poderia intervir militarmente caso Beijing atacasse Taiwan, por considerar que isso representaria uma ameaça à existência japonesa. As informações são do The Guadian.
A decisão foi inicialmente divulgada pelas agências japonesas Kyodo News e NHK e, desde então, vem sendo reforçada por pronunciamentos oficiais chineses. O Ministério das Relações Exteriores da China declarou que “não há mercado para frutos do mar japoneses no cenário atual”, citando tanto a crise diplomática quanto a falta de documentação técnica que Tóquio teria prometido enviar sobre a liberação de água tratada da usina de Fukushima.

A medida retoma a proibição imposta em 2023, que havia sido parcialmente flexibilizada meses atrás. Antes dela, a China, incluindo Hong Kong, era responsável por mais de um quinto das exportações japonesas de pescados.
A tensão aumentou depois que Takaichi foi questionada sobre as leis de autodefesa coletiva aprovadas em 2015. Suas respostas provocaram forte reação de Pequim, que acusou a japonesa de fazer “ameaça militar” e tentar promover um “renascimento” do militarismo pré-guerra. A primeira-ministra não recuou e enviou um diplomata a Pequim, mas as conversas não reduziram o atrito.
Nos últimos dias, a disputa se intensificou. A China enviou embarcações da guarda costeira às águas das Ilhas Senkaku e drones militares sobrevoaram a ilha de Yonaguni. No campo econômico, companhias aéreas processaram reembolsos em massa após um alerta de viagem emitido por Beijing, resultando em cerca de 500 mil cancelamentos de voos para o Japão.
Eventos culturais foram cancelados, estreias de filmes japoneses suspensas e empresas estatais chinesas orientaram funcionários a evitar viagens a Tóquio. Na ONU, o embaixador chinês Fu Cong chegou a afirmar que o Japão está “totalmente desqualificado” para uma vaga permanente no Conselho de Segurança.
Por que isso importa?
Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.
Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.
Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.
A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.